Você tem fome de quê?
Não há nenhuma outra fome
Nenhuma outra sede
E nenhum outro nome mais maldito
Do que o nome do amor:
Esse mantra cruel que injetaram na nossa cultura
Alegando ser cura pra incompletude natural do homem,
Esse ideal romantizado pelo Romantismo
Que os poetas povoaram de lirismos que peguei na mão;
Essa doença que nos atiraram feito sina bandida,
E que quando não-cumprida vira pesadelo ou canção;
Esse vício embrenhado de falso heroísmo
De falso altruísmo e de falso cinismo
(porque é verdadeiro o desespero que dá);
Esse toque que entra no sangue, que entra na carne
Que vira tortura cravada no ar;
Esse desejo animal e divino de ser o outro,
Ter o outro, comer o outro até acabar;
Esse sonho que foge no escuro, que deixa silêncios,
E que ninguém sabe bem como realizar.
E é por sofrer dessa lepra incurável
Impalpável, indomável e – meu Deus! – insuportável
É que decidi saciar minha fome maldita
Com a concreta fome-de-comida alheia.
E eu, que já quisera amor de uma nota só
Percebi que eu podia amar o mundo inteiro
Com a doação menos poética e romântica do mundo, companheiros:
Dinheiro.