sábado, 26 de fevereiro de 2011

“Ando devagar porque já tive pressa...”


Almir Sater

Antes se chamavam nômades, hoje se diz “mochileiros”: não é de hoje a necessidade que o ser humano tem de se movimentar em direção ao desconhecido, abrindo mão de seu próprio conforto e estabilidade para tanto. A saudade é pros que ficam, porque quem vai é forçado a não olhar pra trás. Ir embora pode se tornar um vício, e não saber ficar pode ser quase tão grave quanto não conseguir partir.

Meus queridos andarilhos, foragidos de suas próprias estradas: consolam-se com a diversidade de suas fotos, com o espanto alheio, disfarçando o vazio com adrenalina. Deles havemos de captar a leveza, o jogo de cintura, o desapego às pessoas, mas também às coisas materiais.

Meus inesquecíveis andarilhos, eternos solitários: tenho a coragem de guardar cada um de vocês em mim, mesmo sabendo que jamais regressarão. Aperto no peito o desejo de que um dia vocês encontrem sua terra prometida, e finalmente descubram o que não vão achar em todas as suas voltas pelo mundo: o prazer quase proibido de ficar.

Pra um camaleão escorregadio, príncipe encantador num camelo: me enfeitiçou e foi embora, mas me ensinou seus feitiços sem querer. E me mostrou que é muito melhor ficar quando se sabe ir. Obrigada.