quarta-feira, 26 de junho de 2013

A dona da voz

Ênclise de notas soltas, ninguém entendeu
Nada: saiu dançando, ela pé e mão
Vermelhos como tambor.

O moço loucateou
    A boneca desandou:
         Dissonâncias cotidianas
       Melodias hollywoodianas...
   Bachiana, bacante
Errou.

“Se você disser que eu desafino”,
Disse para o locutor,
“te dou um soco.”
Socos doem, pensou o pênis,
Mesmo os de mulheres
Bonitas: perdeu o peixe
Porque não disse mais
                                          Nada.

“Os tempos não andam
Pra bossa

Nem pras novinhas”;

terça-feira, 19 de março de 2013

O amor nos tempos do cólera.

Suspiro essa frase com a certeza
Que os deuses tem dos homens:
Não te esqueço.
Por nada, que eu não te esqueço.
Construo filmes, diálogos
A fim de chegar nessa cena-precipício
No momento-arrebite que há de me sintetizar,
Que me venha o timing:
Não te esqueço.
Mas o timing não existe
Pro meu não-esquecimento,
Que está sempre acontecendo.

O ritual da poesia me parece pouco.
Precisaria compor uma valsa ao revés
Simbolizando os percalços, as inovações
O estilo próprio e a novidade que é
O fato de não poder te esquecer.
Me imagino velha (sou tão poeta),
E juro que sei que não te esqueço.
Te direi essa frase pra confortar
Todas as outras variáveis da sua vida.

Você não acredita muito
Porque me fui de ti com outras doçuras
E crês que um dia te sangrei entre as pernas.
Sei que me esqueces,
Ou que não lembra mais de gostar.
Mas, no meio de todos os rios,
No cume de todos os bailes e ritmos:
Não te esquecerei nem se a memória caducar,
Porque você é a base de todos os meus poemas.

domingo, 24 de fevereiro de 2013


Almatéria: insolicitude


Tenho me alimentado
Insistentemente do insólito.
E ,por isso, a única solução para suportar
É esquecer:
As maravilhas indolentes
Os feitiços jovens e bobos
A cor de ouro incômoda
Do insólito
Tem me feito penar
E por isso a poesia.

O gosto é que é ruim de tirar.
Tem o sabor do nada,
Como um chá de vento
Ou como a água.
Não dói nem tem poder
Mas como todo faz-de-conta
Me consome e me faz poeta.

Não sei se não o quero mais.
Sei que o insólito às vezes me esbarra nas ruas
E quando sinto o seu não-cheiro
Acho uma pena
Que a vida acabe e que a memória escoe.

Tenho questionado minha pretensa
Estabilidade emocional:
Ô palavra longa. Escadeira.
Não sei se rio ou se choro.
O  insólito repentinamente
Despejou em meus olhos
A embriaguez lúcida de um adolescente.