tag:blogger.com,1999:blog-14099293984436180732024-02-20T03:18:19.341-08:00Hoje eu despedi minha pazolhos nos olhos.Cecíliahttp://www.blogger.com/profile/18012752432093923183noreply@blogger.comBlogger50125tag:blogger.com,1999:blog-1409929398443618073.post-53533090694334016722013-06-26T16:47:00.002-07:002013-06-26T16:47:57.573-07:00A dona da voz<div class="MsoNormal">
Ênclise de notas soltas, ninguém entendeu</div>
<div class="MsoNormal">
Nada: saiu dançando, ela pé e mão</div>
<div class="MsoNormal">
Vermelhos como tambor.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
O moço loucateou</div>
<div class="MsoNormal">
A boneca desandou:</div>
<div class="MsoNormal">
Dissonâncias
cotidianas</div>
<div class="MsoNormal">
Melodias
hollywoodianas...</div>
<div class="MsoNormal">
Bachiana, bacante</div>
<div class="MsoNormal">
Errou.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
“Se você disser que eu desafino”,</div>
<div class="MsoNormal">
Disse para o locutor,</div>
<div class="MsoNormal">
“te dou um soco.”</div>
<div class="MsoNormal">
Socos doem, pensou o pênis,</div>
<div class="MsoNormal">
Mesmo os de mulheres</div>
<div class="MsoNormal">
Bonitas: perdeu o peixe</div>
<div class="MsoNormal">
Porque não disse mais</div>
<div class="MsoNormal">
Nada.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
“Os tempos não andam</div>
<div class="MsoNormal">
Pra bossa</div>
<br />
<div class="MsoNormal">
Nem pras novinhas”;</div>
Cecíliahttp://www.blogger.com/profile/18012752432093923183noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1409929398443618073.post-61350062269974516812013-03-19T22:11:00.006-07:002013-03-19T22:12:57.138-07:00O amor nos tempos do cólera.<h2>
</h2>
Suspiro essa frase com a certeza<br />
<div class="MsoNormal">
Que os deuses tem dos homens:</div>
<div class="MsoNormal">
Não te esqueço.</div>
<div class="MsoNormal">
Por nada, que eu não te esqueço.</div>
<div class="MsoNormal">
Construo filmes, diálogos</div>
<div class="MsoNormal">
A fim de chegar nessa cena-precipício</div>
<div class="MsoNormal">
No momento-arrebite que há de me sintetizar,</div>
<div class="MsoNormal">
Que me venha o timing:</div>
<div class="MsoNormal">
Não te esqueço.</div>
<div class="MsoNormal">
Mas o timing não existe </div>
<div class="MsoNormal">
Pro meu não-esquecimento,</div>
<div class="MsoNormal">
Que está sempre acontecendo.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
O ritual da poesia me parece pouco.</div>
<div class="MsoNormal">
Precisaria compor uma valsa ao revés</div>
<div class="MsoNormal">
Simbolizando os percalços, as inovações</div>
<div class="MsoNormal">
O estilo próprio e a novidade que é</div>
<div class="MsoNormal">
O fato de não poder te esquecer.</div>
<div class="MsoNormal">
Me imagino velha (sou tão poeta),</div>
<div class="MsoNormal">
E juro que sei que não te esqueço.</div>
<div class="MsoNormal">
Te direi essa frase pra confortar</div>
<div class="MsoNormal">
Todas as outras variáveis da sua vida.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Você não acredita muito</div>
<div class="MsoNormal">
Porque me fui de ti com outras doçuras</div>
<div class="MsoNormal">
E crês que um dia te sangrei entre as pernas.</div>
<div class="MsoNormal">
Sei que me esqueces,</div>
<div class="MsoNormal">
Ou que não lembra mais de gostar.</div>
<div class="MsoNormal">
Mas, no meio de todos os rios,</div>
<div class="MsoNormal">
No cume de todos os bailes e ritmos:</div>
<div class="MsoNormal">
Não te esquecerei nem se a memória caducar,</div>
<div class="MsoNormal">
Porque você é a base de todos os meus poemas.</div>
Cecíliahttp://www.blogger.com/profile/18012752432093923183noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1409929398443618073.post-53399260810295379332013-02-24T18:50:00.000-08:002013-02-24T19:04:51.539-08:00<br />
<h3>
<i><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Almatéria: insolicitude</span></i></h3>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Tenho me alimentado <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Insistentemente do insólito.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
E ,por isso, a única solução para suportar<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
É esquecer:<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
As maravilhas indolentes<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Os feitiços jovens e bobos<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
A cor de ouro incômoda<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Do insólito<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Tem me feito penar<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
E por isso a poesia.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
O gosto é que é ruim de tirar.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Tem o sabor do nada,<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Como um chá de vento<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Ou como a água.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Não dói nem tem poder<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Mas como todo faz-de-conta<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Me consome e me faz poeta.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: right;">
Não sei se não o quero mais.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: right;">
Sei que o insólito às vezes me esbarra nas ruas<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: right;">
E quando sinto o seu não-cheiro<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: right;">
Acho uma pena <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: right;">
Que a vida acabe e que a memória escoe.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Tenho questionado minha pretensa<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<i>Estabilidade
emocional:<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
Ô palavra longa. Escadeira.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Não sei se rio ou se choro. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
O insólito
repentinamente<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Despejou em meus olhos<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
A embriaguez lúcida de um adolescente.<o:p></o:p></div>
Cecíliahttp://www.blogger.com/profile/18012752432093923183noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1409929398443618073.post-58983256653002147042012-11-12T15:12:00.001-08:002012-11-12T15:12:14.138-08:00Sobre o que eu faço com as minhas tardes<br />
<div class="MsoNormal">
Quis fazer Psicologia, <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Mas a Literatura me prendeu. </div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Vai saber. Feitiço é coisa que pega e não se explica.</div>
<div class="MsoNormal">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Acabei descobrindo essas minhas duas vocações pra vida:<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Criar e entender.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Criar porque tenho que transformar<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
As coisas que entendo e não gosto.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Entender porque tenho que me certificar<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Que não ando criando demais.<o:p></o:p></div>
Cecíliahttp://www.blogger.com/profile/18012752432093923183noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-1409929398443618073.post-86921086269121020792012-07-28T19:33:00.005-07:002012-07-28T19:33:54.236-07:00<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
O inseto <b>verde</b> chegou e me
perguntou: “Está pronta?”. Não! Tenho que melhorar meus olhos, pintar alguns
versos. Mas aí os meus desejos suavam... vontade de cachoeirar de novo! Que eu
nunca estou pura o suficiente, nunca estou. O inseto esperou. Esperou. E eu
continuei conversando com o espelho: charme de noiva. Dancei sozinha músicas
indizíveis. Ninguém perguntou nada. Eu tinha muita certeza de tudo. Estava
linda. No vidro cheio de imagens repetidas de mim eu me perdi no Tempo, tranquila
que eu era de tê-lo tão esparso aos 20, e quando olhei pra trás não vi mais o bicho
verde. Teria sido um delírio-de-mel? Fui buscar o diário. O inseto estava lá,
esmagado entre minhas folhas perfumadas, borrado da minha tinta grega de
tragédia. Não falou nada. Devia estar morto, mas eu não quis acreditar. Tenho
um medo terrível das coisas que morrem. Arrumada à toa, virei a página da
<b>esperança</b> e fui fazer uma <b>poesia</b>. <o:p></o:p></div>Cecíliahttp://www.blogger.com/profile/18012752432093923183noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1409929398443618073.post-69591357996038138132012-07-04T20:32:00.002-07:002012-07-04T20:33:34.564-07:00<br />
<div class="MsoNoSpacing">
III (começo do fim)<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing">
O dia do foda-se é o dia da despedida.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<o:p> </o:p><span style="background-color: white;">O dia de ser demitida. O dia de despedir minha paz.</span></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<o:p> </o:p><span style="background-color: white;">Dia de mandar embora – “em boa hora” – tudo que não cabe
mais,</span></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<o:p> </o:p><span style="background-color: white;">Mas que eu esperava tanto que, livre da ação engordurante
do tempo,</span></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<o:p> </o:p><span style="background-color: white;">Eu voltasse a ser menina pra vestir –</span></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<o:p> </o:p><span style="background-color: white;">“Esperança” é bonito, mas esperar é um saco.</span></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<o:p> </o:p><span style="background-color: white;">Vou me despir de você</span></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<o:p> </o:p><span style="background-color: white;">Porque minha poesia jamais ficaria nua na sua frente.</span></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<o:p> </o:p><span style="background-color: white;">Com você de frente ela é sempre um mar de rosas,</span></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<o:p> </o:p><span style="background-color: white;">Mas já experimentou levar caldo?</span></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<o:p> </o:p><span style="background-color: white;">Cansei do seu sal. Quero sem sal dessa vez.</span></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<o:p> </o:p><span style="background-color: white;">Água de cachoeira pra me lavar.</span></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<o:p> </o:p><span style="background-color: white;">(Mas não quero que seja doce,</span></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<o:p> </o:p><span style="background-color: white;">Que é pra eu não enjoar...)</span></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<o:p> </o:p><span style="background-color: white;">Seu garçom, caboclo-da-mata,</span></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<o:p> </o:p><span style="background-color: white;">Traz uma poesia sem par?</span></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<o:p></o:p></div>Cecíliahttp://www.blogger.com/profile/18012752432093923183noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1409929398443618073.post-42549884101139197022012-03-07T06:51:00.000-08:002012-03-07T06:51:45.428-08:00Atestado de pertencimento<span style="color: #444444; font-family: "Helvetica Neue", Arial, Helvetica, sans-serif;">A Poesia é esse instrumento de loucura<br />
A favor das minhas cifras silenciosas<br />
Que descombinam das tuas falas cantantes.<br />
Porque, como uma doida, a poesia me aparece<br />
No limiar entre o sono e o olhar racional<br />
Que te procura, (não sei porquê) te procura<br />
E te encontra crescido e crescente<br />
À meia-luz.<br />
<br />
A loucura, esse instrumento de poesia,<br />
Em algum momento me foi transferida<br />
Usou tua boca e teus ombros pra se delinear<br />
Mas agora é minha. <br />
<br />
E, por fim, a meditação, nosso instrumento<br />
Te contempla. Te espera. Te gosta.<br />
Me conta coisas delirantes<br />
Sobre amar, odiar, temer<br />
Mas eu não quero entender.<br />
<br />
_A poesia foi feita pra ser entendida?<br />
Retrucaria (eu), face a teus questionamentos.<br />
Meditaríamos (nós), frente ao suspense.</span><br />
<span style="color: #444444; font-family: "Helvetica Neue", Arial, Helvetica, sans-serif;">E concluiríamos o óbvio, esse grande absurdo<br />
Sobre o amor ser estranho, repentino, contraditório,<br />
Inconveniente, misterioso, delicado,<br />
Numa linguagem tão<strike> irracional</strike> universal.</span>Cecíliahttp://www.blogger.com/profile/18012752432093923183noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1409929398443618073.post-70179966099583856572012-01-16T18:41:00.001-08:002012-01-16T18:41:44.861-08:00O elefante branco, à espera de um prisma<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 11.0pt;">Bom, vamos relembrar o nascimento dos sentimentos: a gente engravida das sensações, as vai alimentando com estrelas, elas tomam feições particulares e passam a ter vida própria – o sentimento. Daí por diante, pouco lhe importa se você não o quer mais, ele vai crescendo, brigando por espaço, fazendo cobranças parasitas, decidindo a hora que sai o Sol. <o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 11.0pt;">Portanto, fica claro que a culpa é nossa, e só nossa, por tais maternidades, são nossas as sensações e os sinais que despertam o instinto tão natural ao homem de criar algo seu. Será que, por ser mulher, sou eu mais propensa a engravidar de sentimentos? Oh, diferenças insuperáveis entre o homem e a mulher... Oh, Romantismo egocêntrico, que sempre quer falar do “eu”! Mas falemos de você – através de mim...<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 11.0pt;">E<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 11.0pt;">U tinha 16 anos quando me apaixonei. Não podia beber, fumar, dirigir nem ser presa (mas a lei permite o casamento). Eu engravidei de um poema seu, belo poema, eu toda virgem, empapuçada de palavras. <o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 11.0pt;">Existe algo esquizofrênico e muito perigoso nas palavras, que é essa história de criar universos independentes, e muitas vezes, intermináveis. E eu, apaixonada e grafomaníaca, condenei o nosso sentimento à eternidade quando o envernizei de palavras. E você, seduzido por minhas sereias literárias, achou de também me enfeitiçar com as suas (palavras, sereias...), e assim criamos verdades lindas, etéreas e intocáveis. O poder do amor me subiu a cabeça – eu ainda virgem! – desceu para o corpo, te possuiu por dentro, e trancou nossa memória amorosa por todos os lados, pervertendo a alma, santificando o corpo e maltratando o meu coração humano, doido para se sujar na lama, mas que está cego e esquizofrênico, perdido em nosso Éden já abandonado. <o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 11.0pt;">Então, por favor, não tente procedimentos cirúrgicos. Vivo gostosamente, viajo mais de uma vez ao ano, me apaixono quando é lua cheia, faço sexo quando tenho vontade: são amores que teço e desteço, teço e desteço, a sina eterna de toda mulher, que é ser Penélope e Pandora. O mal está diagnosticado, hoje falam de gravidez psicológica, mas os sintomas são reais. Olhe bem para o meu amor, (ex) amor! Grande e grandioso, nobre, permanente solstício, todo feito de um vermelho em paz. Já não me acorda de madrugada, nem me pede novas esperanças; é amor bem-comportado, embora nunca vá chegar a ser burguês. Eu já não te acho bonito, você não me faria mulher, não pactuaria com os seus defeitos e vícios e, no entanto, te amo. Peço até desculpas. Não quero pensão.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 11.0pt;">Entretanto, peço licença. Meu amor, esse elefante, vai passar na sua rua, e vai te incomodar. Entre carros e passados, ele faz graça, dando suas passadas avassaladoras e musicais. <o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;"><br />
</div>Cecíliahttp://www.blogger.com/profile/18012752432093923183noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1409929398443618073.post-72376170321424615272011-11-28T12:39:00.000-08:002011-11-28T12:40:39.804-08:00O que não transborda, não mata<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><b>E os poetas que não me entendam mal.</b> Nada contra paixões que inundam cidades, lágrimas que movem moinhos ou qualquer tipo de exagero sentimental. Faz parte da evolução do homem compreender o seu tamanho. E como tudo na vida: se transborda, é muito; se falta, é pouco.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">E continuaremos a fazer isso por algum tempo. Porque existe um vazio que quer desesperadamente ser preenchido, e que quando entra em contato com emoções muito intensas, acredita que sarou. Feito quando a gente arruma um machucado maior e acha que o primeiro não dói mais.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">O problema não está em transbordar, estar em ser transbordado. Porque, no fundo, nos deixamos transbordar simplesmente por não sabermos como encontrar essa fonte de felicidade escondida por trás das nossas angústias, dos medos e desacertos, essa fonte que só pede tranquilidade pra lidar com o que quer que seja. Mas, uma vez encontrada, o mar para de fazer tsunami da gente. Mas a maresia e o seu marulhar continuam, sonoros e serenos, mostrando que há vida circulando e acontecendo em cada célula. E, sabendo o caminho, se torna delicioso transbordar pelos olhos, boca, pelos, e se perder até anoitecer, porque sabemos voltar mesmo de olhos fechados.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">E como tudo na vida é contraditório, que não se esqueça: o momento do desapego é o único momento passível de se eternizar. Porque, aí sim, estamos plenos. Auto-saciados. E então, o que chega, fica, mas não transborda. Não agride, só se espraia – se quisermos. Se não quisermos, pousa e vai embora. Talvez dê vontade de chorar, talvez não; e certamente a completude não é o que querem aqueles que procuram versos sombrios ou o alto-mar dentro do próprio quarto, mas quer saber? Estar pleno, do lado de alguém também pleno, é melhor do que transbordar – é ser. E isso, como seres vivos, sabemos que é bom demais. </span><o:p></o:p></div>Cecíliahttp://www.blogger.com/profile/18012752432093923183noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-1409929398443618073.post-24515685235046399202011-10-09T19:02:00.000-07:002011-10-09T19:25:08.341-07:00Ode ao desequilíbrio<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;">Um deles era todo organizado, certinho. Tinha feito todos os cursos de vida e tinha ternura e plenitude pra dividir e multiplicar. E eu já me era um pouco mais equilibrada, bonita, é claro, já nem bebia tanto assim e adorava estar do lado dele, que era formoso por dentro e pacífico por fora. Depois de nadar e nadar, em pleno alto-mar eu encontrava um banco de areia, porto seguro em plena guerra, na doce liquefação sentimental que eu fazia de mim. <o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;"><br />
</span><br />
<span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;">Mas ele tinha uma questão que jamais atearia fogo no meu carinho calmo: nada sabia do caos. Nunca tinha estado na sarjeta, nunca tinha se sujado, nunca tinha tomado um porre, nunca tinha sido humilhado e, com graça e louvor, alcançara aquele estado de paz, e nele ficaria. E eu, o que faria com aquele azul todo? Pintar de vermelho? Encharcar de vinho? Afogar em jazz?<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;">Eu, não. Não o amava; e também, como amaria? Eu, geminiana múltipla. Não, não eu. <o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;"><br />
</span><br />
<span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;">Brincava de desordenar aquela paz. Ele percebia, não maldava, e logo se colocava de novo num lugar sereno, sem sereno. Eu lhe fazia convites pra chuva, ele ia, mas lá ficava como um cachorro feliz, ignorante. Eu lhe queria índio que se limpasse e dançasse, num ritual muito profundo e natural de existir e se purificar. (Ele, talvez, por força de um desejo velado, só me quisesse.)<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;">Quando eu cansava da brincadeira, eu guardava ele no armário. <o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;">Mas eu também, pouco familiar com a ideia de que aquele ser também tinha suas complexidades, não tinha me dado ao trabalho de verificar: era escorpiano, e muito. Em seus acessos de ciúmes vi nascer o fogo nos olhos, aquela coisa, ele cheio de desdém pelas minhas meninices, e eu toda assustada e afogueada por aqueles mistérios. Ele tinha anulado em si toda a fatalidade apaixonada do veneno, e quase de propósito eu queria conhece-la, de curiosa que era. <o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;">Comecei a provoca-lo mais e mais. Ele ainda sem entender, sempre fingindo não reagir, mas do nada puf: a magia em seus olhos outra vez, crepúsculo de mil sensações, e eu espectadora, infantil. Sem querer, desfiz a sua paz. Afoguei sua vida em caos. E ainda espero que ele ressurja, fênix, pra me contar como é a paz depois da guerra, e pra dormir ao meu lado, atento e refeito, escorpiano sexual e amoroso: que ele, já sabedor de como me acalmar, aprenda, também, a me tirar a paz. <o:p></o:p></span></div>Cecíliahttp://www.blogger.com/profile/18012752432093923183noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-1409929398443618073.post-54926611420013640552011-09-12T15:01:00.001-07:002011-09-12T18:51:47.089-07:00Sobre a gratidão, sobre segundas-feiras e sobre os meus motivosOntem senti saudades da melancolia. Assim e por nada, saudade do vácuo que ela faz no peito e que cobra respostas, incita vontades: escrever, amar, pintar de azul as cortinas do Sol... o bem-estar, por vezes, rasa. Eu queria mergulhar no cinza pra me sentir humana.<br />
<br />
<br />
A meditação é linda de tal forma que faz com que qualquer sensação tenha gosto certo, e que o sentimento explore cada centímetro da alma. Faz com que, qualquer coisa, aconteça. E foi assim que hoje eu acordei melancólica. Em plena segunda-feira. <br />
<br />
Por isso, sou grata. Fazendo imenso esforço, dispenso a vítima romântica, uma das minhas principais máscaras, pra agradecer, seja lá a quem for, por me dar de volta a sensação da segunda-feira, tão necessária pra me perceber, também, vulnerável. Segunda-feira que me despertou chuvosa, por sinal (me esforço pra evitar o egocentrismo, tamanha a exatidão com que o Universo me concedeu o pedido). <br />
<br />
Se você quer saber, eu devo lá ter meus motivos pra querer me nublar. Sabe que o ser humano é esquisito de uma maneira tão contraditória que às vezes fica mais bonito e mais entregue quando sofre? Acho que eu queria ficar mais bonita.<br />
<br />
Porque a vida ainda é feita de muitos símbolos, símbolos que já estão tatuados inevitavelmente. E porque hoje é uma segunda-feira chuvosa de Lua Cheia, e porque eu sou mulher, poeta e apaixonada, eu peço melancolia, símbolo-chave pra poder (te) escrever. E quem sabe a terça-feira me ensolare os sentidos, e a Lua Cheia ache de me engravidar não de poemas, mas sim de feitiços, que vão te trazer até a mim. Aí sim, calados, não precisaremos de símbolos. E nem de segundas-feiras.Cecíliahttp://www.blogger.com/profile/18012752432093923183noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1409929398443618073.post-57900514402718397792011-08-11T12:05:00.000-07:002011-08-11T12:08:07.524-07:00Fundamental é mesmo o amor, não as leis de amor<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Eu não tenho como buscar, nem quero definir, o que são todas as relações loucas e mágicas que tive a oportunidade de (bem) viver até hoje. Então não venha você me dizer como as coisas devem ser feitas, ou quando o sexo é bem-vindo, ou se é elegante ou não fazer isso e aquilo na frente dele... seja inteligente o bastante pra compreender que cada relação tem seu ritmo próprio, suas próprias verdades, uma trilha sonora solar e um momento onde ela cabe, e um momento onde ela não pode ser. Se você tentar enquadrá-la em outro modelo, em outra situação, pra forrar suas imperfeições como se forra um sofá, você vai uniformizar toda a sua singularidade. Esse negócio, também, de anular muitas relações por uma só é não perceber que uma depende da outra, é a simbiose natural do coração e da mente de um homem: todos nós precisamos alimentar todas as nossas relações saudáveis porque a cada uma delas corresponde um pedacinho do nosso corpo, um aprendizado no fundo da memória e um momento tão vivo que parece que tá pra acontecer de novo a qualquer hora. Relacionamento aberto? Não sei, talvez, se a minha bagagem cultural entrenhada em todas as minhas células permitir... mas uma relação é muito mais do que toque, do que sexo, encontros, traição. Uma relação não pode ser apagada nem transformada em nada, porque a partir do momento em que ela existe, é independente, não morre (às vezes acontece de ficar doente, aí vira ferida, mas não morre). Pare com isso de ficar rotulando as coisas! Namoro, amizade, paquera, casamento, mas que saco! Cada um sabe do olhar que lança ao outro, e não precisa de nenhuma classificação pra explicar. Se você não quiser ser corno, simplesmente seja natural, se entregue totalmente ao sexo e se esforce pra cuidar do seu amor, e pronto, sua relação não vai ser traída. Quanto ao resto, é melhor não pensar. Mas que mania o ser humano tem de ficar pensando em desgraça em vez de aproveitar esse nosso maravilhoso fardo: “é impossível ser feliz sozinho”...</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i>essa sou eu falando comigo mesma, e tentando me convencer a não padronizar uma relação linda, com um moço lindo, com quem eu adoro conversar, mas com quem não preciso de palavras. Se a nossa história dá livro, eu não sei, mas música não falta pra gente duetar. Eu já te beijei de todas as maneiras, agora te escrevo sem pudor algum: vamos brindar o que é diferente e viver mais uma noite do nosso jeito, com os nossos limites, de uma maneira que ninguém pode fazer igual... </i> <o:p></o:p></div>Cecíliahttp://www.blogger.com/profile/18012752432093923183noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1409929398443618073.post-70930104321875907552011-07-19T08:04:00.001-07:002011-07-19T08:04:44.605-07:00SODADE<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Que saudade de sentir saudade, Deus meu. Aquela saudade doída, de fechar os poros, de ferver o sangue, doença misturada de ansiedade e prazer masoquista, nostalgia e expectativas sangrentas. Saudade do beijo de saudade, do gosto que ela deixa nas tardes, do frio que ela vem dar do nada, espírito assombroso. Loucura que dá nos melhores, que venha ausente de possessividades, e doce como a chuva ácida das grandes cidades: saudade. Que quando vem insuportável, dá vontade de jogar fora, arrancar o peito. De se jogar em entregas e esperas. Megalomanizar uma coisa dentre tantas outras, esse é o papel da saudade, dar à vida uma grandeza doce de balão esvoaçante nos azuis e cinzas da memória. Saudade, essa doida, invenção humana, me diz se sou eu que tenho que te reescrever ou se ando é com saudade de mim. <o:p></o:p></div>Cecíliahttp://www.blogger.com/profile/18012752432093923183noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1409929398443618073.post-88391097359571220462011-07-17T22:27:00.000-07:002011-07-17T22:37:11.469-07:00Poema de salvação (com dedicatória)<div class="MsoNormal"><i>Como sou justa, faço poesia para um homem que precisa de poesia pra se salvar de si. A esse, meus mais sinceros sentimentos eu-liricais.</i></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Te destrambelhando em versos<o:p></o:p></div><div class="MsoNormal">Sigo provocando o que você desacredita em mim<o:p></o:p></div><div class="MsoNormal">Pra te provar que sou mais inventora<o:p></o:p></div><div class="MsoNormal">Que romântica. Mais mentirosa que mulher.<o:p></o:p></div><div class="MsoNormal">Com umas frases suas, te transformo em música.<o:p></o:p></div><div class="MsoNormal">Me dá um sorriso: não porque eu precise disso<o:p></o:p></div><div class="MsoNormal">E sim porque ele é desculpa pro meu, e você vai gostar.<o:p></o:p></div><div class="MsoNormal">Encha-me de desolhares novos. <o:p></o:p></div><div class="MsoNormal">Finjo que desaprovo seu olhar cansado do mundo<o:p></o:p></div><div class="MsoNormal">Que vai vir repousar nos meus seios ainda doces<o:p></o:p></div><div class="MsoNormal">E brincar com os amores que despontam na hora de gozar... <o:p></o:p></div><div class="MsoNormal">Quem sabe você não acorda (de) novo?<o:p></o:p></div><div class="MsoNormal">Sou doida pra ser sua amante, sua louca<o:p></o:p></div><div class="MsoNormal">Sou doida demais pra tudo, mas tenho a lúcida impressão<o:p></o:p></div><div class="MsoNormal">De que ando te amando.<o:p></o:p></div><div class="MsoNormal">Tenho a nítida lucidez de que a mania de inventar<o:p></o:p></div><div class="MsoNormal">Dessa vez não vai me salvar da dor.<o:p></o:p></div><div class="MsoNormal">Vou acabar por me apaixonar na vida e no papel, e você sabe:<o:p></o:p></div><div class="MsoNormal">A poesia eterniza qualquer tipo de amor. <o:p></o:p></div>Cecíliahttp://www.blogger.com/profile/18012752432093923183noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-1409929398443618073.post-52041654497552012212011-07-03T12:03:00.001-07:002011-07-03T12:03:39.287-07:00Eu não sou nenhuma santa<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">Muitas vezes desejei um homem que gostasse de poesia como eu, que fosse sensível a música e a beleza da vida, que soubesse me tocar com a delicadeza de um passarinho e que não desistisse nunca de tentar voar.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">Eu encontrei. Meu homem lia tanta poesia que se desmanchava, se transformava em música e me deixava sem par. Me tocava tão leve que eu não sentia, queria tanto voar que chorava.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">Eu continuava o amando e chorando com ele. Por ele. Por mim, que estava presa ao lamento triste de minha fênix, que nunca conseguia renascer. Lá fora o povo sambava, bebia e ria, mas eu me contia: estava em busca de uma felicidade maior. <o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">Meu amor deu poema, deu samba, mas nunca me deu alegria.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">Mudei o foco. Amei homens vis, brutos, solitários, velozes, ferozes, vadios, mulatos, vampiros; santos. E a todos eles tive vontade de perguntar: o que você tem de tão bom pra que pense que eu sou sua?<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">Desisti. Fica acordado que amor e cigarro fazem mal pro coração, pros pulmões, pra sanidade. Sem amor, o resto é brincadeira. E brincadeira tem que ser boa, porque a vida às vezes é má. Se feio, se gordo, se jovem, não sei: eu quero um homem engraçado pra rir comigo do amor (mas me amar). <o:p></o:p></span></div>Cecíliahttp://www.blogger.com/profile/18012752432093923183noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-1409929398443618073.post-16296737004922513012011-05-25T12:23:00.001-07:002011-05-25T12:23:13.156-07:00Meu ouro, negro<div class="MsoNormal">O Rio é um lugar de noites e manhãs (manhãs que começam muito cedo, noites que terminam muito tarde). Ouro Preto é um lugar da tarde. Tardes eternas, entre colchas e segredos, construções inventadas pra parecerem antigas, e o cheiro da madeira atemporal que nos liberta do espectro da tal (pós?) modernidade. Quero que essa atmosfera vire anjo das minhas noites insones, chá caseiro para acompanhar meus intermináveis estudos, universitários tal qual essa cidade é. <o:p></o:p></div><div class="MsoNormal">Quero abrigar-me no frio úmido, choroso, que nada me esquenta mais do que olhar para a profundidade desse vale, que me faz pensar na vida e ter orgulho de vive-la.<o:p></o:p></div><div class="MsoNormal">Aqui durmo bem. Acordo cheia de preguiças infantis e inconfessáveis. E quando o Sol finge que vem, eu consigo me levantar. Meu violão me chama, a cidade pede jazz, mas o meu coração quer composição própria, e o meu violão se apaixonou por esse lugar.<o:p></o:p></div><div class="MsoNormal">O Rio parece menos sem graça daqui, porque sinto saudades. A viagem é um entre-lugar, motivo máximo para a Literatura, mas Ouro Preto é meu. Não volto, Rio, enquanto eu não te reinventar.<o:p></o:p></div>Cecíliahttp://www.blogger.com/profile/18012752432093923183noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-1409929398443618073.post-89125522124765994812011-05-16T09:43:00.001-07:002011-05-16T09:43:33.810-07:00ESTÁ APAIXONADAPara os defensores da liberdade dos sentidos, existe essa contradição máxima que se experimenta apaixonado: a sensação de liberdade na unidade. Sensação essa que afirmo, senhores, não se iguala a beber coca-cola no deserto, pular de bungee jumping, visitar a terra dos sonhos ou qualquer outra. <br />
<br />
<br />
Me ponho a mercê do desafio de fazer dar certo, acordo selado com o Cupido, esse anjo caído que assume mil formas, e me faz acreditar no abismo que já me matou tantas vezes... brinco de não lembrar do que não consigo esquecer, de não abdicar das outras paixões, mesmo querendo ficar jogada ali no canto da sala, junto com as almofadas, junto com o moço que me sequestrou do mundo... <br />
<br />
É preciso não abandonar a liberdade, mesmo que a embriaguez amorosa seja inevitável. O amor tem de ser luz no fim do túnel, e não rua sem saída. É preciso continuar crescendo pra alimentar essa lombriga que se aloja no coração, sem deixar que ela nos domine, porque o amor não nasceu pra comandar; o amor ama, e só. A grande armadilha desse senhor, ora Cupido, ora Afrodite; ora Deus, ora o Diabo, é essa: te dar o amor feito filho que se cuida, enquanto você gostaria de ser cuidado por esse amor. <br />
<br />
Ninguém sabe direito a fórmula desse licor dos deuses, e nem se é pura ilusão dos que acreditam. Há quem já tenha visto fadas verdes e gnomos, elefantes rosas e unicórnios; eu vejo amor. A vender minha alma, assino contrato com esse anjo enfeitiçado, e ele risca meu sobrenome na certidão de nascimento, para botar em letras garrafais: (Carolina) ESTÁ APAIXONADA.Cecíliahttp://www.blogger.com/profile/18012752432093923183noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-1409929398443618073.post-39896216699722066692011-04-13T19:52:00.000-07:002011-04-13T19:53:39.594-07:00Rouge<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Quando dança a noite, </span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"></span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Ruge minha fome de amor</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">No quarto vermelho dos fundos;</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Mas você tem dever de casa. Não vem.</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Sonha a cabeceira da cama</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Com gritos de acordar a madrugada.</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Homens estão prestes a se realizarem</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Através de um tal escolhido</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">(sabe lá por quais leis dionisíacas)</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">E você se insinua. Mas não vem.</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Será que você sabe o que quer?</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Se sabe, vê o que pede uma mulher?</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">O teatro das promessas me entedia.</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Palavras quentes, deslizantes,</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Que não me preenchem o útero</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Que mal afagam a mente:</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Preciso de mais pra me impressionar.</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Se você quer ter uma mulher,</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Seja seu homem;</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Se quer enrolá-la</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Seja, no mínimo, poeta.</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Porque a mulher que trabalha</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Estuda, se estressa, se espalha</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">E ainda tem cabeça pra esperar</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Um homem que não sabe chegar</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Vai acabar preferindo se encontrar</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">No colo de outra mulher.</span><br />
<br />
<span style="color: #cc0000; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"></span>Cecíliahttp://www.blogger.com/profile/18012752432093923183noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-1409929398443618073.post-79143171822169884372011-02-26T19:53:00.000-08:002011-02-26T19:53:20.784-08:00<em><span style="font-size: large;">“Ando devagar porque já tive pressa...”</span></em><br />
<br />
<br />
<strong>Almir Sater</strong><br />
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Antes se chamavam nômades, hoje se diz “mochileiros”: não é de hoje a necessidade que o ser humano tem de se movimentar em direção ao desconhecido, abrindo mão de seu próprio conforto e estabilidade para tanto. A saudade é pros que ficam, porque quem vai é forçado a não olhar pra trás. Ir embora pode se tornar um vício, e não saber ficar pode ser quase tão grave quanto não conseguir partir.<br />
<br />
Meus queridos andarilhos, foragidos de suas próprias estradas: consolam-se com a diversidade de suas fotos, com o espanto alheio, disfarçando o vazio com adrenalina. Deles havemos de captar a leveza, o jogo de cintura, o desapego às pessoas, mas também às coisas materiais. <br />
<br />
Meus inesquecíveis andarilhos, eternos solitários: tenho a coragem de guardar cada um de vocês em mim, mesmo sabendo que jamais regressarão. Aperto no peito o desejo de que um dia vocês encontrem sua terra prometida, e finalmente descubram o que não vão achar em todas as suas voltas pelo mundo: o prazer quase proibido de ficar. <br />
<br />
<strong>Pra um camaleão escorregadio, príncipe encantador num camelo: me enfeitiçou e foi embora, mas me ensinou seus feitiços sem querer. E me mostrou que é muito melhor ficar quando se sabe ir. Obrigada.</strong>Cecíliahttp://www.blogger.com/profile/18012752432093923183noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1409929398443618073.post-16341740299351757292011-01-26T18:13:00.000-08:002011-01-26T18:13:12.093-08:00Lança-perfumeJá fui mulher de desfilar na rua. Hoje desfila em mim essa avenida amontoada de gente embriagada por um carnaval que ainda nem aconteceu. <br />
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Decadente. Vazia. Suja. Escura. Bobamente feliz. As crianças com suas espumas, que perturbam a minha visão (que já não quer se esforçar muito), as gargalhadas hipnóticas, os copos de cerveja que ameaçam minha blusa branca a todo momento, as cantadas molhadas, os confetes baratos ---- e eu. Eu e minha droga louca, que não há entorpecente maior que estar apaixonado no meio de uma avenida lotada, me movendo em um carnaval antecipado do qual a minha carne se esquiva, se torcendo toda pra não chorar. <br />
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Eu me embolo em mim. Parece que vou cair. Queria estar louca de conhaque, mas estou louca de amor – não sei como nem porquê. Num rápido flash onde a memória se confunde com o presente, a 28 de setembro é a Dias da Cruz dos meus carnavais de infância, das minhas alegrias doces e pueris. Passo a gostar dela. Meu desfile interno sai pra passear, e vejo minhas emoções pedindo licença, girando mais do que poderia o meu corpo fatigado de desejo não-correspondido. Um perfume me toma inevitavelmente – parece ar, mas é amor – e eu quase o pego com as mãos. Antes que eu o abrace, ele me abraça. E num delírio último, eu me desfaço no meio das ruas de Vila Isabel, tomada por uma Dias da Cruz imaginária, por uma vontade incontrolável, e por um lança-perfume inusitado que só pode ser você, meu amor.Cecíliahttp://www.blogger.com/profile/18012752432093923183noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1409929398443618073.post-44467462902298384432011-01-16T18:31:00.001-08:002011-01-16T20:25:13.432-08:00Itabira, eu e a música do Chico<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: purple;">Me entreguei desarmada</span>: redenção sem resistência, que eu não sou boba de resistir ao irresistível. Já que era Minas, eu poderia ter recitado os versos encachaçados de Drummond – sorvendo cachaça – e te fazendo aceitar que eu era, finalmente, aquela mulher que sabe o que dizer, mesmo que as palavras saíssem rodopiando do estômago até chegar a boca, passando pelo coração, que dieta eficiente pro corpo e pra alma é se apaixonar. Eu sequer sussurrei doçuras, deixando meu corpo reagir baixinho, quase mudo (o que seria quase impossível). Eu deixei meu pavão misterioso dormindo, enquanto a menina acordava com os passarinhos na janela, melodiando Corinne Bailey Rae...</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"></span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br />
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<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">É que eu não queria querer mais nada. Já me satisfaria sua eloquência de sentidos e trejeitos, doce maneira de calar meu verbo voador, ou o jeito que você tem de virar minha cabeça sem me tirar a paz. Nem poderia eu ousar algo além do nada vendo seu sorriso de quem não quer nada – que é a sua maneira de conseguir tudo – contrastando modernamente com seus olhos de azeviche – a poesia de um olhar desbanca palavras.</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br />
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<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">E eu, que não sei renegar vício de carne e osso sabendo que o tédio desfila por aí sob a proteção de nossas cansadas re(o)tinas, me peguei querendo viver dessa embriaguez que, por ser leve, parecia inofensiva, mas que logo impestiou os meus versos, meu travesseiro, meu violão. Traída pela minha poesia, achei de decidir: cansei de literatura. </span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br />
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<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Acho que vou fazer cinema. </span>Cecíliahttp://www.blogger.com/profile/18012752432093923183noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-1409929398443618073.post-70918467218169331702010-12-21T07:58:00.000-08:002010-12-21T07:58:38.489-08:00Mentiras sinceras (sempre) me interessamEu sei que você já beijou garotos<br />
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Já dormiu na sarjeta suja <br />
Já foi egoísta, instintivo<br />
Cruel, subversivo<br />
Nocivo à sociedade.<br />
É verdade.<br />
Mas é você querendo<br />
É você podendo se sabotar<br />
E pronto: eu acredito nas suas mentiras – <br />
Nem é preciso disfarçar.<br />
Te quero mesmo humano<br />
Não me poupe amoralidades<br />
E - por favor - não me poupe do clichê.<br />
E assim a gente vai revezando:<br />
Quando eu disser que te amo, <br />
Você diz “eu amo você”.Cecíliahttp://www.blogger.com/profile/18012752432093923183noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-1409929398443618073.post-64907525146213249702010-12-02T18:17:00.001-08:002010-12-02T18:17:18.239-08:00Partida e sem porto seguro, é mais ou menos assim que a gente se sente no meio da estrada, depois de uns 2 ou 3 amores que caíram do céu feito pingo em poça d’água, e lá ficaram: armadilhas pros meus pés descalços, cheios de calos secos. <br />
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Partidas que não se superam, porque eu cansei de ir embora. Cansei de renovações, socos no estômago, dilúvios cerebrais, tempestades emocionais e textos técnicos. <br />
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Cansei do equilíbrio, da independência (a minha, a do Brasil, a do mundo), da paz. Cansei de tudo que dá trabalho. Cansei de trabalhar para ansiar pelo descanso.<br />
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Vou cancelar a terapia pra tomar banho de cachoeira todos os dias. Quando eu cansar de ser limpa, vou tomar um porre. Vou morar dentro do meu próprio abandono, me aquecer a partir do que me destrói. E torcer pra não ir embora. Mais do que ser corajosa para partir, quero ser humana: quero (saber) ficar.Cecíliahttp://www.blogger.com/profile/18012752432093923183noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-1409929398443618073.post-39555841470705314172010-11-22T12:38:00.000-08:002010-11-22T16:47:02.942-08:00"Mimar você"<em>Não quero a receita de um soneto</em><br />
<em></em><br />
<em>Pra te derreter nos meus versos.</em><br />
<em>Tampouco te provarei ma-te-ma-ti-ca-men-te</em><br />
<em>Que há outros, melhores e mais fáceis, </em><br />
<em>Que dia e noite me oferecem sóis enluarados:</em><br />
<em>Não há motivos pra querer só você.</em><br />
<em>Nem teria eu, tão complicada, </em><br />
<em>Motivos pra buscar palavras compostas,</em><br />
<em>Olhares cubistas, dupla personalidade</em><br />
<em>Quando me cabe bem a simplicidade</em><br />
<em>Do Nada. </em><br />
<em>Ah, não pretendo enfeitiçar meus quadris</em><br />
<em>Pra que você desaprenda dos outros...</em><br />
<em>Nem quero mergulhar no segredo</em><br />
<em>Dos seus silêncios mágicos</em><br />
<em>Para o que quero, anjo,</em><br />
<em>Dispenso orquestra, buffet,</em><br />
<em>Estrelas, roupa de gala.</em><br />
<em>Para o que quero, louco,</em><br />
<em>Anuncio nesse poema tão pobre,</em><br />
<em>Cheio de espaços inúteis:</em><br />
<em>Aqui estou nua. Crua.</em><br />
<em>Querendo te ganhar</em><br />
<em>Te ter</em><br />
<em>Só pra ser só sua. </em>Cecíliahttp://www.blogger.com/profile/18012752432093923183noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1409929398443618073.post-7361666171207577782010-10-26T19:34:00.001-07:002010-10-26T19:34:24.092-07:00As lentes ébrias do bem e do malDia desses acordei e, durante aquele breve instante em que você vai se dando conta de quem é e onde está, lembrei que era míope e logo me dei conta: não fazia idéia de onde estavam minhas lentes.<br />
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O dia anterior explica: eu e minha amiga no bar. Eu e minha amiga muito bêbadas no bar. Eu e minha amiga muito bêbadas na casa dela. Eu sem caixinha de lente. (...) --- e dia seguinte! Minha memória não conseguia ir além disso e eu não conseguia ir além do colchão porque as coisas não passavam de vultos sem nexo algum. Sem lente, sem óculos, sem memória, sem dignidade: essa era a minha situação. <br />
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Procurei a lente em todos os potinhos possíveis que eu poderia, alucinada, achar que convinha guarda-las. Eu nunca, nem em outros mil porres, nem nos meus piores dias, tinha esquecido de guardar as lentes – ainda que nos lugares mais improváveis – porque elas eram meu xodó, minha alforria do estereotipo nerd, meu tratado de paz com o espelho; não era possível que o meu eu bêbado me desapontaria tanto assim.<br />
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Uma hora, desisti e fui embora arrasada. Passei o dia em casa, de óculos, cabelo pro alto, comendo muito, disposta a me tornar um ogro gordo e solitário até ter dinheiro pra comprar outro par. <br />
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Mas no dia seguinte vieram as vozes. E elas não paravam de me mandar buscar o que era meu, e eu fui. Entrei no quarto dela certeira, fui direto no armário e abri o pote que me viera a cabeça: lá estavam elas. Nem eu mesma acreditava.<br />
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Naquele dia, senhores, principalmente naquele dia, eu percebi que Deus existia, e que, ao contrário do que muitos pensam, chega a conversar conosco sem intermediários. Mas uma coisa é certa: o paraíso é um marasmo, por isso somos as marionetes de sua divina comédia. E nada me tira da cabeça que quando eu botei aqueles lentes nos olhos de novo e enxerguei o mundo com nitidez, era ele que me olhava no espelho dizendo, mais uma vez: “Te peguei, hein?”<br />
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E comecei a ver que era esse o acordo de quem bebe: um dia rindo com o Diabo pra no dia seguinte Deus – e o Diabo – rirem da gente.Cecíliahttp://www.blogger.com/profile/18012752432093923183noreply@blogger.com0