domingo, 29 de agosto de 2010

Você tem fome de quê?


Não há nenhuma outra fome

Nenhuma outra sede

E nenhum outro nome mais maldito

Do que o nome do amor:



Esse mantra cruel que injetaram na nossa cultura

Alegando ser cura pra incompletude natural do homem,



Esse ideal romantizado pelo Romantismo

Que os poetas povoaram de lirismos que peguei na mão;



Essa doença que nos atiraram feito sina bandida,

E que quando não-cumprida vira pesadelo ou canção;



Esse vício embrenhado de falso heroísmo

De falso altruísmo e de falso cinismo

(porque é verdadeiro o desespero que dá);



Esse toque que entra no sangue, que entra na carne

Que vira tortura cravada no ar;



Esse desejo animal e divino de ser o outro,

Ter o outro, comer o outro até acabar;



Esse sonho que foge no escuro, que deixa silêncios,

E que ninguém sabe bem como realizar.



E é por sofrer dessa lepra incurável

Impalpável, indomável e – meu Deus! – insuportável

É que decidi saciar minha fome maldita

Com a concreta fome-de-comida alheia.



E eu, que já quisera amor de uma nota só

Percebi que eu podia amar o mundo inteiro

Com a doação menos poética e romântica do mundo, companheiros:

Dinheiro.

Um comentário:

  1. "Essa doença que nos atiraram feito sina bandida,
    E que quando não-cumprida vira pesadelo ou canção" - Nem sei te explicar o quanto eu entendo exatamente o que isso quer dizer!


    "Esse desejo animal e divino de ser o outro,
    Ter o outro, comer o outro até acabar"- SENSACIONAL!!!!

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