sábado, 19 de dezembro de 2009

Dando a luz

Que meu sentimento me ilumine: o parto é sempre seriíssimo. Não, não faça dengo, você vai sair de mim pra respirar em palavras, você precisa se vestir dos meus verbos pra que eu te admire meu – essa é meu modo lírico de te fazer meu, pelo tempo em que eu conseguir te tornar poesia – minha águia linda, venha, me beije, me bique, me tenha... – inverto?! Ora, se não sou eu que já me faço sua através das minhas palavras traiçoeiras, que jogam tão pouco a favor do meu ego inseguro... “cretino”, você. Toma, isso é seu.
Toma... (já) sou tua.

sábado, 5 de dezembro de 2009

O amor dos anjos nas verdades do Poetinha ou de Vinicius

Tem essa horinha assim em que Deus vem, todo sem jeito, me pedindo que entregue seu corpo de vez. Eu fico toda dor, que saudades vou ter do jeito que você tem de se ser, dos seus olhos que sabiam ser irresistivelmente doces – e dos sorrisos sapecas, e dos gestos eloquentes, e de todos os clichês apaixonados de Leoni – e eu já num anúncio do vazio de você.
Mas eu acato. Te acato, Deus. Te acato de olhos fechados pra que as lágrimas não te apiedem. Te acato porque a paixão enlouqueceu o amor, e ele chora inconformado quando o sexo vira duelo. Te acato sempre, porque esse meu amor é humano também, e a hora da morte é com Teus anjos; acato.
E então dá-se o que transcende. Vejo o corpo dele brilhando em glória, e aquele segundo em que ele é deus e homem, no desembaraço da alma e do que perece. Ele sente o momento e seu olhar é quase um grito, meu Deus, tira essa imagem de mim pra que não corrompam os olhos doces.
...
Foi. Tão lindo que me deixou de herança o amor, já divinizado e sem carne.
Olha, meu amor, eu te prometo cuidar desse sentimento-luz, das suas palavras suspirantes, dos nossos filhos-poemas, das nossas tantas músicas e das estrelas do meu terraço. Prometo não bagunçar minha memória poética, e Clarice já prometeu me ajudar a não me perder. Prometo ser pôr-do-sol e não me abandonar de pirraça, porque é me sendo que ainda te sou. E, por fim, prometo o que sempre buscamos e que mal sabíamos que não é nessa terra de Santa Cruz que se consegue ------ prometo o (nosso) amor em paz.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Segredando...

Pontinhos mal-iluminados que somos, meu Deus, e o Senhor ainda inventou de nos dar essa mania de querer brilhar. Grandiosidade pelas estradas, tropeçamos num existencialismo que dá e não passa, em dias de muito sol ou sol nenhum, em milagres que doem desde o começo por causa dessa maldita efemeridade. O que resta é a brincadeira de embaçar a vista, plantar bananeira, beber a cerveja com os amigos tal qual ritual muito secreto, pertencente a essas últimas pessoas que ainda não desistiram de ser feliz. O que resta é não acordar de manhã, mas também não dispensar a magia indolente da tarde, enquanto o corpo se alimenta de preguiça pra receber o ar sensual da noite. O que resta somos nós pra nós mesmos.
Pontinhos tão metidos a espertos. Enrolados em analogias, metáforas, eufemismos, sambas-canções, promessas, pecados, joguinhos, desaforos e falsidades. E quem é brega e dispensa analogias, metáforas, eufemismos, sambas-canções (hm.. sambas-canções não), promessas, pecados, joguinhos, desaforos e falsidades, se mete até em amor. Com esse ou sem, paira sempre um abrangente paradoxo em tudo que fazemos, somos, ou pensamos em fazer e pensamos que somos: o paradoxo da multilateralidade. Somos pequenos, atômicos, mas muito cheios de lados. Uns lados bem podres – que bom que maldade não apodrece o corpo nem faz ninguém cair do pé... ou não.
Pontinhos que vão perdendo a inocência, que vão se perdendo, que vão vivendo em vão, que vão; pontinhos que se acham exclamações, pontinhos que se acham ainda menores do que já são; pontinhos e as reticências da vida. Mas o segredo, segredo mesmo, quem já viveu sabe: Deus fala baixinho no ouvido dos apaixonados.

domingo, 22 de novembro de 2009

Das decepções inesperadas e das minhas respostas para elas

Vem o encanto
Vêm músicas doces, talvez suspiros
Vôo.

Mas o que de humano é divinamente respeitável?
Minhas asas de mãe se abrem curiosas para o desfile da criatividade humana, e de suas tão docemente desculpáveis contradições - umas nem tanto. E pelo "umas nem tanto" eu pauso o passeio, dou de ombros e caio em outra direção, sem deixar de acreditar que há um suspiro eterno no final de algum arco-íris rudimentar e metafísico. Quem não sabe enxergar o charme dessa insanidade fingida, desses desvarios planejados pra me libertar, fica sem a magia que guardo na alma - até porque a cidade é perigosa, e há muitos olhos gordos e armados por aí pra que eu a levasse como um diamante no colo...
O que de humano é absolutamente intragável?
Te olho, meiga. Perdôo traições - sôu = vôo. "Fazer o bem sem holofotes", dizem os anjos baixinho pra mim, e é quase uma arrogância não cobrar de ti o mesmo. Deixo as lágrimas dos desencontros nas letras de fôrma - sim, me permito isso porque elas são minhas, porque são abstratas e porque jamais usarão seu nome, que é bruto demais pro lirismo delas.
Ah, vá, procure beleza onde quiser. Continue a se encantar, deslumbrar - e olha, quando o pára-quedas não funcionar, não tenha vergonha de me pedir o feitiço pra não deformar sua essência na queda. E nem precisa agradecer: dispenso rancor por saúde e por falta de lugar no meu coração. Afinal, só quem ama sabe que o amor é leve coisa nenhuma e que amor demais não mata, mas ocupa um espaço que só...

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Quero brincar de encontros. Não daqueles formais e adultos - passo as 9, vamos jantar?, vou te levar ao teatro - mas daqueles que, por pretensão tão mais sublime e grandiosa, não há o espectro do beijo e o sexo é brincadeira boba de quem não sabe ver o sol nascer. Não, não vou de carro, quero ir andando. Quero ir saltitando. Quero ir correndo sem orgulho nenhum - de preferência prum abraço... Quero tomar sorvete, e tem que ser de morango porque é mais bonito. Quero guerra! De almofada, de cosquinha, de riso, de água... e que as pazes sejam feitas com olhares longuíssimos, e quem desistir primeiro é a mulher do padre.
Quero desenhar a quatro mãos (ou a doze bilhões de mãos, por que não? Um encontro mundial...). Pintar o sete, a cara, a parede, o mundo, o meu coração. Me sujar de lama, de vida, de um amor que de tão puro me dói e me marca.
Ver filme só se for com muita pipoca, protegida por um mar de lençóis. O violão só pode surgir a favor do momento, sendo proibidas canções que não saibam do amor. As questões graves podem entrar em cena escoltadas por risadas, mas bem escondidas nas entrelinhas porque as nuvens não gostam de peso e ninguém é bobo de querer ser expulso do paraíso. Bem pode-se chorar quando o tom róseo surgir no céu como um desatino, mas é essencial não cansar os olhos porque eles são bons pra namorar... e os relógios são péssimos pra quem quer entrar em transe.
Olha, vamos combinar. Eu levo Manoel de Barros com a gente, você leva uns biscoitos amanteigados. Umas histórias engraçadas pra quando faltar assunto, e umas estrelas pro nosso silêncio compartilhado. Eu levo uma melodia pra cantarolar e você a coragem pra me dar a mão - mas se não tiver sobrando, deixa que eu levo a minha. Ó, a gente tem também que levar uma criatura imaginária pra gente rir dela, e fazer carinho depois, fingindo que não é o outro que morremos de vontade de acariciar.
Vai, somos crianças. Quando a gente cansar nosso bom senso, a gente se perde de corpo e se beija de alma. Quer encontrar comigo...?


Para um casal lindo e gracioso que me fez desenhar e sorrir em pleno Jardim Botânico, atemporais e assexuados, me lembrando que ser namoro ou amizade, mulher ou homem é muito chato. Bom mesmo é ser só gente. E quando isso também cansar, "a gente vira desenho"...

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Das esperas...

Esperando por conversas intermináveis no meio da tarde, quando o silêncio róseo nos lembra a pureza do amor; por noites de gala que, de tão estreladas, não sabem parar de dançar na memória; por banhos de mar que acordem o Sol e os ossos, os políticos e Iemanjá; por um emprego macio que ainda mais me humanize, sendo meu dever seriíssimo assistir o pôr-do-sol; por água gelada pra alma depois de atravessar tantos sertões de mim; por um xote tão bem conduzido que eu precise de massagem pra abrir os olhos; por um perfume-de-sonho que venha escondido até mim e se apaixone, adocicando pra sempre meu rosto; por um jeito de dizer “não” que seja quase um “sim” de tão leve; por contínuos desejos. Por uma vida assim, que de tão imprevisível e tão indecifrável, continua a me tornar a pessoa insatisfeita mais feliz do mundo.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Que passa, o que. Não passa. Eu mudo, meu playlist muda, meu cabelo muda, já to na faculdade e não passou. Desde então, já tentei ser descolada, desiludida, boêmia, lésbica, assexuada e nada. Ele fica. (Ele) dói.
É que quando nosso mundo brilha, pára e os planetas se alinham, a gente já sabe: é amor. Quem nunca sentiu, reconhece. Quem acha já ter sentido, se desengana. Então Deus se ri, daquela risada escancarada, desce e põe na nossa certidão: “de amor”. Ou marca com um coração o quadradinho de “razão da existência”, coisas assim. Ele faz de tudo: pinta nome em arco-íris, joga a pessoa no nosso primeiro pensamento da manhã e a gente pensa: ta tudo acertado. A gente pensa? A gente é feliz sem pensar.
Resultado: amor por tardes chuvosas de sexta, por domingos inacabáveis, por varandas estreladas, por coquetéis chatíssimos (com ótimos esconderijos), por ‘bom-dia’, por beijo de ‘boa-noite’, por violão, por chafariz, por Paris, por qualquer lugar com a pessoa, por qualquer lugar onde ela tenha passado, por qualquer referência a pessoa; por saber que ela existe – e com ela, existir também.
Calha da gente renascer, e aí sim pode-se não amar ou até mesmo amar de novo – e fênix que somos, arriscaremos serem familiares os sinais – sorte de quem guarda forças na alma pra se reconstruir em migalhas de desamor.
E é por isso, é por isso que se deve morrer de amor demais. Porque não passa. Porque é pra sempre. Então quem sabe numa nova primavera, ou quem sabe nosso amor também não brinca de renascer e nos aviva outra vez...