quarta-feira, 25 de maio de 2011

Meu ouro, negro

O Rio é um lugar de noites e manhãs (manhãs que começam muito cedo, noites que terminam muito tarde). Ouro Preto é um lugar da tarde. Tardes eternas, entre colchas e segredos, construções inventadas pra parecerem antigas, e o cheiro da madeira atemporal que nos liberta do espectro da tal (pós?) modernidade. Quero que essa atmosfera vire anjo das minhas noites insones, chá caseiro para acompanhar meus intermináveis estudos, universitários tal qual essa cidade é.
Quero abrigar-me no frio úmido, choroso, que nada me esquenta mais do que olhar para a profundidade desse vale, que me faz pensar na vida e ter orgulho de vive-la.
Aqui durmo bem. Acordo cheia de preguiças infantis e inconfessáveis. E quando o Sol finge que vem, eu consigo me levantar. Meu violão me chama, a cidade pede jazz, mas o meu coração quer composição própria, e o meu violão se apaixonou por esse lugar.
O Rio parece menos sem graça daqui, porque sinto saudades. A viagem é um entre-lugar, motivo máximo para a Literatura, mas Ouro Preto é meu. Não volto, Rio, enquanto eu não te reinventar.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

ESTÁ APAIXONADA

Para os defensores da liberdade dos sentidos, existe essa contradição máxima que se experimenta apaixonado: a sensação de liberdade na unidade. Sensação essa que afirmo, senhores, não se iguala a beber coca-cola no deserto, pular de bungee jumping, visitar a terra dos sonhos ou qualquer outra.


Me ponho a mercê do desafio de fazer dar certo, acordo selado com o Cupido, esse anjo caído que assume mil formas, e me faz acreditar no abismo que já me matou tantas vezes... brinco de não lembrar do que não consigo esquecer, de não abdicar das outras paixões, mesmo querendo ficar jogada ali no canto da sala, junto com as almofadas, junto com o moço que me sequestrou do mundo...

É preciso não abandonar a liberdade, mesmo que a embriaguez amorosa seja inevitável. O amor tem de ser luz no fim do túnel, e não rua sem saída. É preciso continuar crescendo pra alimentar essa lombriga que se aloja no coração, sem deixar que ela nos domine, porque o amor não nasceu pra comandar; o amor ama, e só. A grande armadilha desse senhor, ora Cupido, ora Afrodite; ora Deus, ora o Diabo, é essa: te dar o amor feito filho que se cuida, enquanto você gostaria de ser cuidado por esse amor.

Ninguém sabe direito a fórmula desse licor dos deuses, e nem se é pura ilusão dos que acreditam. Há quem já tenha visto fadas verdes e gnomos, elefantes rosas e unicórnios; eu vejo amor. A vender minha alma, assino contrato com esse anjo enfeitiçado, e ele risca meu sobrenome na certidão de nascimento, para botar em letras garrafais: (Carolina) ESTÁ APAIXONADA.