sábado, 24 de abril de 2010

Notas de Dindi
(para Ana, minha eterna Dindi)

“Ah, Dindi
Se soubesses o bem que eu lhe quero
O mundo seria Dindi...”
Dindi – Tom Jobim

Depois de Pasárgada, paraíso inventado de Bandeira que se realizou na imaginação de tantos outros também, me veio Dindi, oásis de Tom, através da Ana, meu porto-seguro amistoso. A primeira vez que a música (me) tocou fez com que eu construísse a imagem de uma Dindi-mulher, em uma serenidade sereia, com toques bucólicos de verde e mar. E o poeta que pedia “Se um dia você for embora, me leva contigo, Dindi...” também dizia que essa Dindi não existia, como não existem a maioria dos seres amados, que nada mais são que projeções nossas. Pois logo me projetei num amor estranho por essa música. Não sei se por Dindi ou se por suas notas não-verbais; era um platonismo dengoso e estranho de amar o que não se pode abraçar com a carne. Dei pra projetar a paixão da leitura na paixão de Dindi e passei a ler sobre a música. Mas não é que meu ideário, tão previsivelmente romântico, se enganara quando construíra Dindi como mulher? Dindi era uma encosta, na qual Tom gostava de ficar e projetar seu amor... E foi através dessa redescoberta que eu amei de uma forma ainda mais divina essa encosta, que existe atrás do quintal de cada um ou num cantinho mágico da nossa poesia interna e eterna; essa encosta que amamos como não amaremos mais ninguém porque só ela pode nos responder com silêncio e com o amor que nós mesmos damos; essa encosta que, já tatuada em mim, um dia tatuarei na pele, pra que eu lembre pra todo o meu sempre que o amor perfeito dói – mas dói em paz.

terça-feira, 6 de abril de 2010

Every woman is a black magic woman

Depois de tantos anos de luta, as mulheres conseguiram o que elas queriam: o direito de ter libido, sem precisar ser aquele ser que precisa ser conquistado e dar pro cara quase como uma recompensa. O que poucas pessoas vêem é que isso é uma evolução e tanta também pra alguns homens que não se vêem como machos-alfas da espécie e não precisam mais se sentir na obrigação de satisfazer todas as fêmeas necessitadas que vierem requisitar os seus serviços.

É, depois de tantos anos de lutas internas e de me virem falar Pagu, Frida Kahlo, Simone de Beauvoir, Edith Piaf, Leila Diniz, me permito também, como elas, ser mulher e acima de tudo ser humano, com os meus desejos, fraquezas, purezas e perversões. Me permito me ser, aceitando que nem todos verão uma genuína força feminina desabrochando nos meus olhos - sim, toda mulher quer ser deusa e, às vezes, é só "uma garota, na frente de um garoto, pedindo pra que ele a ame". Me permito ser rejeitada sem me odiar tanto.

Mas quer saber de uma coisa? No fundo a mulher ainda não sabe lidar com a rejeição do seu corpo, coisa que os homens encaram muito bem. Portanto, não se assustem... quando uma mulher é rejeitada, Afrodite veste seu vestido vermelho e vem brigar com o Cupido por aqui.
Os indícios mais comuns de sua presença são danças sensuais, bebida, acertos de conta ousados, provocações e charme, muito charme.

Porém, não a culpem. Afrodite nunca foi rejeitada.

Portanto, não me culpem. Qualquer desvario romântico, qualquer olhar perigosamente sensual da minha parte, já saibam: é minha Afrodite rodando a baiana, cheia de brasileirismos e com licença pra sambar.