terça-feira, 19 de julho de 2011

SODADE

Que saudade de sentir saudade, Deus meu. Aquela saudade doída, de fechar os poros, de ferver o sangue, doença misturada de ansiedade e prazer masoquista, nostalgia e expectativas sangrentas. Saudade do beijo de saudade, do gosto que ela deixa nas tardes, do frio que ela vem dar do nada, espírito assombroso. Loucura que dá nos melhores, que venha ausente de possessividades, e doce como a chuva ácida das grandes cidades: saudade. Que quando vem insuportável, dá vontade de jogar fora, arrancar o peito. De se jogar em entregas e esperas. Megalomanizar uma coisa dentre tantas outras, esse é o papel da saudade, dar à vida uma grandeza doce de balão esvoaçante nos azuis e cinzas da memória. Saudade, essa doida, invenção humana, me diz se sou eu que tenho que te reescrever ou se ando é com saudade de mim. 

domingo, 17 de julho de 2011

Poema de salvação (com dedicatória)

Como sou justa, faço poesia para um homem que precisa de poesia pra se salvar de si. A esse, meus mais sinceros sentimentos eu-liricais.

Te destrambelhando em versos
Sigo provocando o que você desacredita em mim
Pra te provar que sou mais inventora
Que romântica. Mais mentirosa que mulher.
Com umas frases suas, te transformo em música.
Me dá um sorriso: não porque eu precise disso
E sim porque ele é desculpa pro meu, e você vai gostar.
Encha-me de desolhares novos.
Finjo que desaprovo seu olhar cansado do mundo
Que vai vir repousar nos meus seios ainda doces
E brincar com os amores que despontam na hora de gozar...
Quem sabe você não acorda (de) novo?
Sou doida pra ser sua amante, sua louca
Sou doida demais pra tudo, mas tenho a lúcida impressão
De que ando te amando.
Tenho a nítida lucidez de que a mania de inventar
Dessa vez não vai me salvar da dor.
Vou acabar por me apaixonar na vida e no papel, e você sabe:
A poesia eterniza qualquer tipo de amor.  

domingo, 3 de julho de 2011

Eu não sou nenhuma santa

Muitas vezes desejei um homem que gostasse de poesia como eu, que fosse sensível a música e a beleza da vida, que soubesse me tocar com a delicadeza de um passarinho e que não desistisse nunca de tentar voar.
Eu encontrei. Meu homem lia tanta poesia que se desmanchava, se transformava em música e me deixava sem par. Me tocava tão leve que eu não sentia, queria tanto voar que chorava.
Eu continuava o amando e chorando com ele. Por ele. Por mim, que estava presa ao lamento triste de minha fênix, que nunca conseguia renascer. Lá fora o povo sambava, bebia e ria, mas eu me contia: estava em busca de uma felicidade maior.
Meu amor deu poema, deu samba, mas nunca me deu alegria.
Mudei o foco. Amei homens vis, brutos, solitários, velozes, ferozes, vadios, mulatos, vampiros; santos. E a todos eles tive vontade de perguntar: o que você tem de tão bom pra que pense que eu sou sua?
Desisti. Fica acordado que amor e cigarro fazem mal pro coração, pros pulmões, pra sanidade. Sem amor, o resto é brincadeira. E brincadeira tem que ser boa, porque a vida às vezes é má. Se feio, se gordo, se jovem, não sei: eu quero um homem engraçado pra rir comigo do amor (mas me amar).