domingo, 17 de janeiro de 2010

Anti-guerra

Eu armada com sorriso de mais um café
E você já moldando abraço de ir embora.
Mas – ufa – era só por causa da hora.
Então eu pedi uma ligação e te abracei
Sã – sem charme de solidão.
Você saiu, eu pedi, eu sorri
Mas você não ligou.
E ainda que esse filete amargo
Ameace estrago nesse meu licor
Sinto que é azul a sua ausência
Sinto que é azul esse amor
Que aprendeu a voar
E ainda assim
Ficou.

Porque todo mundo sabe que é gostoso viver o momento, mas que é muito melhor quando ele é inesquecível o suficiente pra ficar. =)

domingo, 10 de janeiro de 2010

“ sabe que o meu gostar de você chegou a ser amor, pois eu me comovia vendo você (…) meu deus, como você me doía de vez em quando. eu vou ficar esperando você numa tarde cinzenta de inverno, bem no meio duma praça. então os meus braços não vão ser suficientes para abraçar você e a minha voz vai querer dizer tanta, mas tanta coisa que eu vou ficar calado um tempo enorme só olhando você, sem dizer nada, só olhando e pensando: meu deus, mas como você me dói de vez em quando."


caio fernando abreu


[Quando um poeta quer dizer, ele cria.
Quando ele dá de sentir, precisa de outro poeta
Pra soprar poesia por ele.

de Moraes, de Barros, de Andrade
Abreu, Bandeira, Meireles
Quintana, Leminski, Buarque
Obrigada pelo chá lírico e quente
Se não é pedir muito,
Recolham os cacos, as lágrimas
E usem - não faz falta
A favor de vocês.
Quero uma flor, um mês
Um pintor e o português
Para que esse amor, como o poeta dizia,
Em vez de virar raiva
Vire poesia. (acho que virou)]

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Abafado cristalino

Tenho paixão sem jeito pelo calor. Só a própria palavra já precisa ser abanada, tamanha a vibração que causa nas pessoas – e, vibrando nele, a gente transborda. O que me alivia é o suor metafísico levando os pensamentos contraídos e exageradamente atentos; se desfaz em mim tudo que é denso demais.
Escrevo em expansão, sabendo que o calor dispensa qualquer descrição porque é matéria poética palpável; inspiração úmida, livre de qualquer amarra verbal. Até o abraço, carinho nobremente elevado na escala da satisfação, flui mais seguro e firme, sem muita frescura. E se teoricamente desfavorecido pela temperatura desconfortável, dança em gargalhadas nas entrelinhas. Os corpos veraneiam entre si e tudo que sorri fica 10 anos mais jovem – as crianças, em sua sábia simplicidade, ficam atemporais.
Mergulho, sem medo, na tentação ensolarada de falar na paixão pelo calor; no calor da paixão. Mergulho intenso no ébrio, no veranoso, nas ondas. Mergulho no que exige um retorno pra que eu não me afogue nem me queime. Me molho nos 10 segundos culpados pelo tesão, me seco nos 40 graus cariocas e o mais lindo é o momento que fica suspenso no ar, sem preocupações, acima das camadas pesadas do inverno. Só tem medo quem não sabe nadar.
É por isso que eu, corajosa, me atiro na energia quente que o céu azul dá, certa de que se põe com o Sol minha alegria para pairar sobre mim à noite, já enluarada e cheia de feitiços suaves. Mato minha sede no calor, esgotando minhas forças até que elas se multipliquem coloridas ao meu redor. E quando é o calor que morre, me purifico e evaporo até chegar a você, nuvem tímida que sou; e ainda que saibamos arder irremediavelmente bem, vemos se reduzir a pó a luxúria, o fogo, o efêmero.
Porém é aí que surpreendemos a todos florindo juntos, chovendo juntos. Cansada a paixão, nos entregamos à infinita maré do amor, que não tem estação, nome nem sexo; se satisfaz assim, no prazer contínuo da liberdade, e desse jeito seguimos: amantes tranqüilos, eternos, equatorizados.
Tenho paixão sem jeito pelo amor.


Pela boa energia dos verões apaixonados... (e outonos, invernos, primaveras...)