terça-feira, 27 de outubro de 2009

Quero brincar de encontros. Não daqueles formais e adultos - passo as 9, vamos jantar?, vou te levar ao teatro - mas daqueles que, por pretensão tão mais sublime e grandiosa, não há o espectro do beijo e o sexo é brincadeira boba de quem não sabe ver o sol nascer. Não, não vou de carro, quero ir andando. Quero ir saltitando. Quero ir correndo sem orgulho nenhum - de preferência prum abraço... Quero tomar sorvete, e tem que ser de morango porque é mais bonito. Quero guerra! De almofada, de cosquinha, de riso, de água... e que as pazes sejam feitas com olhares longuíssimos, e quem desistir primeiro é a mulher do padre.
Quero desenhar a quatro mãos (ou a doze bilhões de mãos, por que não? Um encontro mundial...). Pintar o sete, a cara, a parede, o mundo, o meu coração. Me sujar de lama, de vida, de um amor que de tão puro me dói e me marca.
Ver filme só se for com muita pipoca, protegida por um mar de lençóis. O violão só pode surgir a favor do momento, sendo proibidas canções que não saibam do amor. As questões graves podem entrar em cena escoltadas por risadas, mas bem escondidas nas entrelinhas porque as nuvens não gostam de peso e ninguém é bobo de querer ser expulso do paraíso. Bem pode-se chorar quando o tom róseo surgir no céu como um desatino, mas é essencial não cansar os olhos porque eles são bons pra namorar... e os relógios são péssimos pra quem quer entrar em transe.
Olha, vamos combinar. Eu levo Manoel de Barros com a gente, você leva uns biscoitos amanteigados. Umas histórias engraçadas pra quando faltar assunto, e umas estrelas pro nosso silêncio compartilhado. Eu levo uma melodia pra cantarolar e você a coragem pra me dar a mão - mas se não tiver sobrando, deixa que eu levo a minha. Ó, a gente tem também que levar uma criatura imaginária pra gente rir dela, e fazer carinho depois, fingindo que não é o outro que morremos de vontade de acariciar.
Vai, somos crianças. Quando a gente cansar nosso bom senso, a gente se perde de corpo e se beija de alma. Quer encontrar comigo...?


Para um casal lindo e gracioso que me fez desenhar e sorrir em pleno Jardim Botânico, atemporais e assexuados, me lembrando que ser namoro ou amizade, mulher ou homem é muito chato. Bom mesmo é ser só gente. E quando isso também cansar, "a gente vira desenho"...

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Das esperas...

Esperando por conversas intermináveis no meio da tarde, quando o silêncio róseo nos lembra a pureza do amor; por noites de gala que, de tão estreladas, não sabem parar de dançar na memória; por banhos de mar que acordem o Sol e os ossos, os políticos e Iemanjá; por um emprego macio que ainda mais me humanize, sendo meu dever seriíssimo assistir o pôr-do-sol; por água gelada pra alma depois de atravessar tantos sertões de mim; por um xote tão bem conduzido que eu precise de massagem pra abrir os olhos; por um perfume-de-sonho que venha escondido até mim e se apaixone, adocicando pra sempre meu rosto; por um jeito de dizer “não” que seja quase um “sim” de tão leve; por contínuos desejos. Por uma vida assim, que de tão imprevisível e tão indecifrável, continua a me tornar a pessoa insatisfeita mais feliz do mundo.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Que passa, o que. Não passa. Eu mudo, meu playlist muda, meu cabelo muda, já to na faculdade e não passou. Desde então, já tentei ser descolada, desiludida, boêmia, lésbica, assexuada e nada. Ele fica. (Ele) dói.
É que quando nosso mundo brilha, pára e os planetas se alinham, a gente já sabe: é amor. Quem nunca sentiu, reconhece. Quem acha já ter sentido, se desengana. Então Deus se ri, daquela risada escancarada, desce e põe na nossa certidão: “de amor”. Ou marca com um coração o quadradinho de “razão da existência”, coisas assim. Ele faz de tudo: pinta nome em arco-íris, joga a pessoa no nosso primeiro pensamento da manhã e a gente pensa: ta tudo acertado. A gente pensa? A gente é feliz sem pensar.
Resultado: amor por tardes chuvosas de sexta, por domingos inacabáveis, por varandas estreladas, por coquetéis chatíssimos (com ótimos esconderijos), por ‘bom-dia’, por beijo de ‘boa-noite’, por violão, por chafariz, por Paris, por qualquer lugar com a pessoa, por qualquer lugar onde ela tenha passado, por qualquer referência a pessoa; por saber que ela existe – e com ela, existir também.
Calha da gente renascer, e aí sim pode-se não amar ou até mesmo amar de novo – e fênix que somos, arriscaremos serem familiares os sinais – sorte de quem guarda forças na alma pra se reconstruir em migalhas de desamor.
E é por isso, é por isso que se deve morrer de amor demais. Porque não passa. Porque é pra sempre. Então quem sabe numa nova primavera, ou quem sabe nosso amor também não brinca de renascer e nos aviva outra vez...