segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Sobre o que eu faço com as minhas tardes


Quis fazer Psicologia,
Mas a Literatura me prendeu. 

Vai saber. Feitiço é coisa que pega e não se explica.

Acabei descobrindo essas minhas duas vocações pra vida:
Criar e entender.

Criar porque tenho que transformar
As coisas que entendo e não gosto.

Entender porque tenho que me certificar
Que não ando criando demais.

sábado, 28 de julho de 2012


O inseto verde chegou e me perguntou: “Está pronta?”. Não! Tenho que melhorar meus olhos, pintar alguns versos. Mas aí os meus desejos suavam... vontade de cachoeirar de novo! Que eu nunca estou pura o suficiente, nunca estou. O inseto esperou. Esperou. E eu continuei conversando com o espelho: charme de noiva. Dancei sozinha músicas indizíveis. Ninguém perguntou nada. Eu tinha muita certeza de tudo. Estava linda. No vidro cheio de imagens repetidas de mim eu me perdi no Tempo, tranquila que eu era de tê-lo tão esparso aos 20, e quando olhei pra trás não vi mais o bicho verde. Teria sido um delírio-de-mel? Fui buscar o diário. O inseto estava lá, esmagado entre minhas folhas perfumadas, borrado da minha tinta grega de tragédia. Não falou nada. Devia estar morto, mas eu não quis acreditar. Tenho um medo terrível das coisas que morrem. Arrumada à toa, virei a página da esperança e fui fazer uma poesia

quarta-feira, 4 de julho de 2012


III (começo do fim)

O dia do foda-se é o dia da despedida.
 O dia de ser demitida. O dia de despedir minha paz.
 Dia de mandar embora – “em boa hora” – tudo que não cabe mais,
 Mas que eu esperava tanto que, livre da ação engordurante do tempo,
 Eu voltasse a ser menina pra vestir –
 “Esperança” é bonito, mas esperar é um saco.
 Vou me despir de você
 Porque minha poesia jamais ficaria nua na sua frente.
 Com você de frente ela é sempre um mar de rosas,
 Mas já experimentou levar caldo?
 Cansei do seu sal. Quero sem sal dessa vez.
 Água de cachoeira pra me lavar.
 (Mas não quero que seja doce,
 Que é pra eu não enjoar...)
 Seu garçom, caboclo-da-mata,
 Traz uma poesia sem par?

quarta-feira, 7 de março de 2012

Atestado de pertencimento

A Poesia é esse instrumento de loucura
A favor das minhas cifras silenciosas
Que descombinam das tuas falas cantantes.
Porque, como uma doida, a poesia me aparece
No limiar entre o sono e o olhar racional
Que te procura, (não sei porquê) te procura
E te encontra crescido e crescente
À meia-luz.

A loucura, esse instrumento de poesia,
Em algum momento me foi transferida
Usou tua boca e teus ombros pra se delinear
Mas agora é minha. 

E, por fim, a meditação, nosso instrumento
Te contempla. Te espera. Te gosta.
Me conta coisas delirantes
Sobre amar, odiar, temer
Mas eu não quero entender.

_A poesia foi feita pra ser entendida?
Retrucaria (eu), face a teus questionamentos.
Meditaríamos (nós), frente ao suspense.

E concluiríamos o óbvio, esse grande absurdo
Sobre o amor ser estranho, repentino, contraditório,
Inconveniente, misterioso, delicado,
Numa linguagem tão irracional universal.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

O elefante branco, à espera de um prisma

Bom, vamos relembrar o nascimento dos sentimentos: a gente engravida das sensações, as vai alimentando com estrelas, elas tomam feições particulares e passam a ter vida própria – o sentimento. Daí por diante, pouco lhe importa se você não o quer mais, ele vai crescendo, brigando por espaço, fazendo cobranças parasitas, decidindo a hora que sai o Sol.

Portanto, fica claro que a culpa é nossa, e só nossa, por tais maternidades, são nossas as sensações e os sinais que despertam o instinto tão natural ao homem de criar algo seu. Será que, por ser mulher, sou eu mais propensa a engravidar de sentimentos? Oh, diferenças insuperáveis entre o homem e a mulher... Oh, Romantismo egocêntrico, que sempre quer falar do “eu”! Mas falemos de você – através de mim...

E
U tinha 16 anos quando me apaixonei. Não podia beber, fumar, dirigir nem ser presa (mas a lei permite o casamento). Eu engravidei de um poema seu, belo poema, eu toda virgem, empapuçada de palavras.

Existe algo esquizofrênico e muito perigoso nas palavras, que é essa história de criar universos independentes, e muitas vezes, intermináveis. E eu, apaixonada e grafomaníaca, condenei o nosso sentimento à eternidade quando o envernizei de palavras. E você, seduzido por minhas sereias literárias, achou de também me enfeitiçar com as suas (palavras, sereias...), e assim criamos verdades lindas, etéreas e intocáveis. O poder do amor me subiu a cabeça – eu ainda virgem! – desceu para o corpo, te possuiu por dentro, e trancou nossa memória amorosa por todos os lados, pervertendo a alma, santificando o corpo e maltratando o meu coração humano, doido para se sujar na lama, mas que está cego e esquizofrênico, perdido em nosso Éden já abandonado.

Então, por favor, não tente procedimentos cirúrgicos. Vivo gostosamente, viajo mais de uma vez ao ano, me apaixono quando é lua cheia, faço sexo quando tenho vontade: são amores que teço e desteço, teço e desteço, a sina eterna de toda mulher, que é ser Penélope e Pandora. O mal está diagnosticado, hoje falam de gravidez psicológica, mas os sintomas são reais. Olhe bem para o meu amor, (ex) amor! Grande e grandioso, nobre, permanente solstício, todo feito de um vermelho em paz. Já não me acorda de madrugada, nem me pede novas esperanças; é amor bem-comportado, embora nunca vá chegar a ser burguês. Eu já não te acho bonito, você não me faria mulher, não pactuaria com os seus defeitos e vícios e, no entanto, te amo. Peço até desculpas. Não quero pensão.

Entretanto, peço licença. Meu amor, esse elefante, vai passar na sua rua, e vai te incomodar. Entre carros e passados, ele faz graça, dando suas passadas avassaladoras e musicais.