Minha vida, como todas as outras, é feita de um mar irreversível de lembranças. Enquanto algumas pessoas caem pro lado sépio da própria história, ignoro a nostalgia para que eu reveja minhas memórias tais quais filmes favoritos, e dá-se então o milagre: revivo a atmosfera de combinações condicionais que fizeram um momento ser do jeito que foi. Coisa que congelo com cuidado e sem medo, respeitadora das minhas metamorfoses, sem ousar pretender resgatar antigos ares no plano real: o alinhamento dos mundos não se repete, porque as possibilidades são irresistivelmente infinitas. Que fiquem as pessoas, as músicas e os lugares, cada um sendo pleno em sua unidade, contanto que estejamos prontos a saborear todo tipo de mistura, e assim nossos rios correrão tranqüilos.
Pecado mais grave que o da nostalgia é, porém, deixar de visitar – sentimentos-vivos que somos! – alegrias e emoções que bem souberam nos marcar. E por isso escrevo. Por isso deixo rastros pela casa, guardo bilhetinhos de cinema, registro sensações mesmo em carne viva, mergulho no passado cheia de curiosidade de mim. E bastaria uma gota de perfume ou um fio de cabelo pra recuperar nossos filmes-de-vida, nossas histórias em quadrinho, contos de fada e anedotas inacreditáveis, responsáveis por construir dentro de nós uma vibração só nossa e que, se quisermos, podemos doar em abraços. Se assim soubermos fazer, seguiremos deslumbrados e apaixonados pelo que fomos, pelo que somos; pelo intenso mistério do desconhecido, impalpável e – se Deus quiser – eterno.
(Cecília também brinca de colorir verdades, escrevo porque a vida não é o bastante, perdoem se surgirem flores demais)
domingo, 21 de fevereiro de 2010
domingo, 7 de fevereiro de 2010
Aviso aos navegantes
Eu abri a porta, dançando
Seu sorriso rodopiando no ar
(Que, por sinal, era perfumado)
: eu tive vontade de calar
É que, Cecília, se não me escutas
é porque "na tua presença
palavras são brutas"
E é que seus drinks coloridos
Não param de me tomar
(...)
E ainda que fosse noite
Que fosse sábado
Ainda que fosse errado
Ainda que não fosse nada
Tinha gosto de primavera
Trapaceando o calor do verão
E me tocou à flor da terra
Com o feitiço do violão
(Poesia rima com samba?)
E agora, num outro sábado
Já me enriquece outro instante
Porque você já me emudeceu de novo
Já fez a sua parte dançante
Já tem a sua parte em mim
-------e agora parte, distante.
Me partindo sem contar
Se o sorriso era só seu
Ou se tinha nele alguma coisinha
Alguma rima um tanto minha
Que eu possa guardar de você.
Seu sorriso rodopiando no ar
(Que, por sinal, era perfumado)
: eu tive vontade de calar
É que, Cecília, se não me escutas
é porque "na tua presença
palavras são brutas"
E é que seus drinks coloridos
Não param de me tomar
(...)
E ainda que fosse noite
Que fosse sábado
Ainda que fosse errado
Ainda que não fosse nada
Tinha gosto de primavera
Trapaceando o calor do verão
E me tocou à flor da terra
Com o feitiço do violão
(Poesia rima com samba?)
E agora, num outro sábado
Já me enriquece outro instante
Porque você já me emudeceu de novo
Já fez a sua parte dançante
Já tem a sua parte em mim
-------e agora parte, distante.
Me partindo sem contar
Se o sorriso era só seu
Ou se tinha nele alguma coisinha
Alguma rima um tanto minha
Que eu possa guardar de você.
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