segunda-feira, 28 de novembro de 2011

O que não transborda, não mata

E os poetas que não me entendam mal. Nada contra paixões que inundam cidades, lágrimas que movem moinhos ou qualquer tipo de exagero sentimental. Faz parte da evolução do homem compreender o seu tamanho. E como tudo na vida: se transborda, é muito; se falta, é pouco.

E continuaremos a fazer isso por algum tempo. Porque existe um vazio que quer desesperadamente ser preenchido, e que quando entra em contato com emoções muito intensas, acredita que sarou. Feito quando a gente arruma um machucado maior e acha que o primeiro não dói mais.

O problema não está em transbordar, estar em ser transbordado. Porque, no fundo, nos deixamos transbordar simplesmente por não sabermos como encontrar essa fonte de felicidade escondida por trás das nossas angústias, dos medos e desacertos, essa fonte que só pede tranquilidade pra lidar com o que quer que seja. Mas, uma vez encontrada, o mar para de fazer tsunami da gente. Mas a maresia e o seu marulhar continuam, sonoros e serenos, mostrando que há vida circulando e acontecendo em cada célula. E, sabendo o caminho, se torna delicioso transbordar pelos olhos, boca, pelos, e se perder até anoitecer, porque sabemos voltar mesmo de olhos fechados.

E como tudo na vida é contraditório, que não se esqueça: o momento do desapego é o único momento passível de se eternizar. Porque, aí sim, estamos plenos. Auto-saciados. E então, o que chega, fica, mas não transborda. Não agride, só se espraia – se quisermos. Se não quisermos, pousa e vai embora. Talvez dê vontade de chorar, talvez não; e certamente a completude não é o que querem aqueles que procuram versos sombrios ou o alto-mar dentro do próprio quarto, mas quer saber? Estar pleno, do lado de alguém também pleno, é melhor do que transbordar – é ser. E isso, como seres vivos, sabemos que é bom demais. 

domingo, 9 de outubro de 2011

Ode ao desequilíbrio

Um deles era todo organizado, certinho. Tinha feito todos os cursos de vida e tinha ternura e plenitude pra dividir e multiplicar. E eu já me era um pouco mais equilibrada, bonita, é claro, já nem bebia tanto assim e adorava estar do lado dele, que era formoso por dentro e pacífico por fora. Depois de nadar e nadar, em pleno alto-mar eu encontrava um banco de areia, porto seguro em plena guerra, na doce liquefação sentimental que eu fazia de mim.


Mas ele tinha uma questão que jamais atearia fogo no meu carinho calmo: nada sabia do caos. Nunca tinha estado na sarjeta, nunca tinha se sujado, nunca tinha tomado um porre, nunca tinha sido humilhado e, com graça e louvor, alcançara aquele estado de paz, e nele ficaria. E eu, o que faria com aquele azul todo? Pintar de vermelho? Encharcar de vinho? Afogar em jazz?

Eu, não. Não o amava; e também, como amaria? Eu, geminiana múltipla. Não, não eu.


Brincava de desordenar aquela paz. Ele percebia, não maldava, e logo se colocava de novo num lugar sereno, sem sereno. Eu lhe fazia convites pra chuva, ele ia, mas lá ficava como um cachorro feliz, ignorante. Eu lhe queria índio que se limpasse e dançasse, num ritual muito profundo e natural de existir e se purificar. (Ele, talvez, por força de um desejo velado, só me quisesse.)

Quando eu cansava da brincadeira, eu guardava ele no armário.

Mas eu também, pouco familiar com a ideia de que aquele ser também tinha suas complexidades, não tinha me dado ao trabalho de verificar: era escorpiano, e muito. Em seus acessos de ciúmes vi nascer o fogo nos olhos, aquela coisa, ele cheio de desdém pelas minhas meninices, e eu toda assustada e afogueada por aqueles mistérios. Ele tinha anulado em si toda a fatalidade apaixonada do veneno, e quase de propósito eu queria conhece-la, de curiosa que era.

Comecei a provoca-lo mais e mais. Ele ainda sem entender, sempre fingindo não reagir, mas do nada puf: a magia em seus olhos outra vez, crepúsculo de mil sensações, e eu espectadora, infantil. Sem querer, desfiz a sua paz. Afoguei sua vida em caos. E ainda espero que ele ressurja, fênix, pra me contar como é a paz depois da guerra, e pra dormir ao meu lado, atento e refeito, escorpiano sexual e amoroso: que ele, já sabedor de como me acalmar, aprenda, também, a me tirar a paz. 

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Sobre a gratidão, sobre segundas-feiras e sobre os meus motivos

Ontem senti saudades da melancolia. Assim e por nada, saudade do vácuo que ela faz no peito e que cobra respostas, incita vontades: escrever, amar, pintar de azul as cortinas do Sol... o bem-estar, por vezes, rasa. Eu queria mergulhar no cinza pra me sentir humana.


A meditação é linda de tal forma que faz com que qualquer sensação tenha gosto certo, e que o sentimento explore cada centímetro da alma. Faz com que, qualquer coisa, aconteça. E foi assim que hoje eu acordei melancólica. Em plena segunda-feira.

Por isso, sou grata. Fazendo imenso esforço, dispenso a vítima romântica, uma das minhas principais máscaras, pra agradecer, seja lá a quem for, por me dar de volta a sensação da segunda-feira, tão necessária pra me perceber, também, vulnerável. Segunda-feira que me despertou chuvosa, por sinal (me esforço pra evitar o egocentrismo, tamanha a exatidão com que o Universo me concedeu o pedido).

Se você quer saber, eu devo lá ter meus motivos pra querer me nublar. Sabe que o ser humano é esquisito de uma maneira tão contraditória que às vezes fica mais bonito e mais entregue quando sofre? Acho que eu queria ficar mais bonita.

Porque a vida ainda é feita de muitos símbolos, símbolos que já estão tatuados inevitavelmente. E porque hoje é uma segunda-feira chuvosa de Lua Cheia, e porque eu sou mulher, poeta e apaixonada, eu peço melancolia, símbolo-chave pra poder (te) escrever. E quem sabe a terça-feira me ensolare os sentidos, e a Lua Cheia ache de me engravidar não de poemas, mas sim de feitiços, que vão te trazer até a mim. Aí sim, calados, não precisaremos de símbolos. E nem de segundas-feiras.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Fundamental é mesmo o amor, não as leis de amor

Eu não tenho como buscar, nem quero definir, o que são todas as relações loucas e mágicas que tive a oportunidade de (bem) viver até hoje. Então não venha você me dizer como as coisas devem ser feitas, ou quando o sexo é bem-vindo, ou se é elegante ou não fazer isso e aquilo na frente dele... seja inteligente o bastante pra compreender que cada relação tem seu ritmo próprio, suas próprias verdades, uma trilha sonora solar e um momento onde ela cabe, e um momento onde ela não pode ser. Se você tentar enquadrá-la em outro modelo, em outra situação, pra forrar suas imperfeições como se forra um sofá, você vai uniformizar toda a sua singularidade. Esse negócio, também, de anular muitas relações por uma só é não perceber que uma depende da outra, é a simbiose natural do coração e da mente de um homem: todos nós precisamos alimentar todas as nossas relações saudáveis porque a cada uma delas corresponde um pedacinho do nosso corpo, um aprendizado no fundo da memória e um momento tão vivo que parece que tá pra acontecer de novo a qualquer hora. Relacionamento aberto? Não sei, talvez, se a minha bagagem cultural entrenhada em todas as minhas células permitir... mas uma relação é muito mais do que toque, do que sexo, encontros, traição. Uma relação não pode ser apagada nem transformada em nada, porque a partir do momento em que ela existe, é independente, não morre (às vezes acontece de ficar doente, aí vira ferida, mas não morre). Pare com isso de ficar rotulando as coisas! Namoro, amizade, paquera, casamento, mas que saco! Cada um sabe do olhar que lança ao outro, e não precisa de nenhuma classificação pra explicar. Se você não quiser ser corno, simplesmente seja natural, se entregue totalmente ao sexo e se esforce pra cuidar do seu amor, e pronto, sua relação não vai ser traída. Quanto ao resto, é melhor não pensar. Mas que mania o ser humano tem de ficar pensando em desgraça em vez de aproveitar esse nosso maravilhoso fardo: “é impossível ser feliz sozinho”...

essa sou eu falando comigo mesma, e tentando me convencer a não padronizar uma relação linda, com um moço lindo, com quem eu adoro conversar, mas com quem não preciso de palavras. Se a nossa história dá livro, eu não sei, mas música não falta pra gente duetar. Eu já te beijei de todas as maneiras, agora te escrevo sem pudor algum: vamos brindar o que é diferente e viver mais uma noite do nosso jeito, com os nossos limites, de uma maneira que ninguém pode fazer igual...  

terça-feira, 19 de julho de 2011

SODADE

Que saudade de sentir saudade, Deus meu. Aquela saudade doída, de fechar os poros, de ferver o sangue, doença misturada de ansiedade e prazer masoquista, nostalgia e expectativas sangrentas. Saudade do beijo de saudade, do gosto que ela deixa nas tardes, do frio que ela vem dar do nada, espírito assombroso. Loucura que dá nos melhores, que venha ausente de possessividades, e doce como a chuva ácida das grandes cidades: saudade. Que quando vem insuportável, dá vontade de jogar fora, arrancar o peito. De se jogar em entregas e esperas. Megalomanizar uma coisa dentre tantas outras, esse é o papel da saudade, dar à vida uma grandeza doce de balão esvoaçante nos azuis e cinzas da memória. Saudade, essa doida, invenção humana, me diz se sou eu que tenho que te reescrever ou se ando é com saudade de mim. 

domingo, 17 de julho de 2011

Poema de salvação (com dedicatória)

Como sou justa, faço poesia para um homem que precisa de poesia pra se salvar de si. A esse, meus mais sinceros sentimentos eu-liricais.

Te destrambelhando em versos
Sigo provocando o que você desacredita em mim
Pra te provar que sou mais inventora
Que romântica. Mais mentirosa que mulher.
Com umas frases suas, te transformo em música.
Me dá um sorriso: não porque eu precise disso
E sim porque ele é desculpa pro meu, e você vai gostar.
Encha-me de desolhares novos.
Finjo que desaprovo seu olhar cansado do mundo
Que vai vir repousar nos meus seios ainda doces
E brincar com os amores que despontam na hora de gozar...
Quem sabe você não acorda (de) novo?
Sou doida pra ser sua amante, sua louca
Sou doida demais pra tudo, mas tenho a lúcida impressão
De que ando te amando.
Tenho a nítida lucidez de que a mania de inventar
Dessa vez não vai me salvar da dor.
Vou acabar por me apaixonar na vida e no papel, e você sabe:
A poesia eterniza qualquer tipo de amor.  

domingo, 3 de julho de 2011

Eu não sou nenhuma santa

Muitas vezes desejei um homem que gostasse de poesia como eu, que fosse sensível a música e a beleza da vida, que soubesse me tocar com a delicadeza de um passarinho e que não desistisse nunca de tentar voar.
Eu encontrei. Meu homem lia tanta poesia que se desmanchava, se transformava em música e me deixava sem par. Me tocava tão leve que eu não sentia, queria tanto voar que chorava.
Eu continuava o amando e chorando com ele. Por ele. Por mim, que estava presa ao lamento triste de minha fênix, que nunca conseguia renascer. Lá fora o povo sambava, bebia e ria, mas eu me contia: estava em busca de uma felicidade maior.
Meu amor deu poema, deu samba, mas nunca me deu alegria.
Mudei o foco. Amei homens vis, brutos, solitários, velozes, ferozes, vadios, mulatos, vampiros; santos. E a todos eles tive vontade de perguntar: o que você tem de tão bom pra que pense que eu sou sua?
Desisti. Fica acordado que amor e cigarro fazem mal pro coração, pros pulmões, pra sanidade. Sem amor, o resto é brincadeira. E brincadeira tem que ser boa, porque a vida às vezes é má. Se feio, se gordo, se jovem, não sei: eu quero um homem engraçado pra rir comigo do amor (mas me amar). 

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Meu ouro, negro

O Rio é um lugar de noites e manhãs (manhãs que começam muito cedo, noites que terminam muito tarde). Ouro Preto é um lugar da tarde. Tardes eternas, entre colchas e segredos, construções inventadas pra parecerem antigas, e o cheiro da madeira atemporal que nos liberta do espectro da tal (pós?) modernidade. Quero que essa atmosfera vire anjo das minhas noites insones, chá caseiro para acompanhar meus intermináveis estudos, universitários tal qual essa cidade é.
Quero abrigar-me no frio úmido, choroso, que nada me esquenta mais do que olhar para a profundidade desse vale, que me faz pensar na vida e ter orgulho de vive-la.
Aqui durmo bem. Acordo cheia de preguiças infantis e inconfessáveis. E quando o Sol finge que vem, eu consigo me levantar. Meu violão me chama, a cidade pede jazz, mas o meu coração quer composição própria, e o meu violão se apaixonou por esse lugar.
O Rio parece menos sem graça daqui, porque sinto saudades. A viagem é um entre-lugar, motivo máximo para a Literatura, mas Ouro Preto é meu. Não volto, Rio, enquanto eu não te reinventar.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

ESTÁ APAIXONADA

Para os defensores da liberdade dos sentidos, existe essa contradição máxima que se experimenta apaixonado: a sensação de liberdade na unidade. Sensação essa que afirmo, senhores, não se iguala a beber coca-cola no deserto, pular de bungee jumping, visitar a terra dos sonhos ou qualquer outra.


Me ponho a mercê do desafio de fazer dar certo, acordo selado com o Cupido, esse anjo caído que assume mil formas, e me faz acreditar no abismo que já me matou tantas vezes... brinco de não lembrar do que não consigo esquecer, de não abdicar das outras paixões, mesmo querendo ficar jogada ali no canto da sala, junto com as almofadas, junto com o moço que me sequestrou do mundo...

É preciso não abandonar a liberdade, mesmo que a embriaguez amorosa seja inevitável. O amor tem de ser luz no fim do túnel, e não rua sem saída. É preciso continuar crescendo pra alimentar essa lombriga que se aloja no coração, sem deixar que ela nos domine, porque o amor não nasceu pra comandar; o amor ama, e só. A grande armadilha desse senhor, ora Cupido, ora Afrodite; ora Deus, ora o Diabo, é essa: te dar o amor feito filho que se cuida, enquanto você gostaria de ser cuidado por esse amor.

Ninguém sabe direito a fórmula desse licor dos deuses, e nem se é pura ilusão dos que acreditam. Há quem já tenha visto fadas verdes e gnomos, elefantes rosas e unicórnios; eu vejo amor. A vender minha alma, assino contrato com esse anjo enfeitiçado, e ele risca meu sobrenome na certidão de nascimento, para botar em letras garrafais: (Carolina) ESTÁ APAIXONADA.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Rouge

Quando dança a noite,

Ruge minha fome de amor
No quarto vermelho dos fundos;
Mas você tem dever de casa. Não vem.
Sonha a cabeceira da cama
Com gritos de acordar a madrugada.
Homens estão prestes a se realizarem
Através de um tal escolhido
(sabe lá por quais leis dionisíacas)
E você se insinua. Mas não vem.
Será que você sabe o que quer?
Se sabe, vê o que pede uma mulher?
O teatro das promessas me entedia.
Palavras quentes, deslizantes,
Que não me preenchem o útero
Que mal afagam a mente:
Preciso de mais pra me impressionar.
Se você quer ter uma mulher,
Seja seu homem;
Se quer enrolá-la
Seja, no mínimo, poeta.
Porque a mulher que trabalha
Estuda, se estressa, se espalha
E ainda tem cabeça pra esperar
Um homem que não sabe chegar
Vai acabar preferindo se encontrar
No colo de outra mulher.

sábado, 26 de fevereiro de 2011

“Ando devagar porque já tive pressa...”


Almir Sater

Antes se chamavam nômades, hoje se diz “mochileiros”: não é de hoje a necessidade que o ser humano tem de se movimentar em direção ao desconhecido, abrindo mão de seu próprio conforto e estabilidade para tanto. A saudade é pros que ficam, porque quem vai é forçado a não olhar pra trás. Ir embora pode se tornar um vício, e não saber ficar pode ser quase tão grave quanto não conseguir partir.

Meus queridos andarilhos, foragidos de suas próprias estradas: consolam-se com a diversidade de suas fotos, com o espanto alheio, disfarçando o vazio com adrenalina. Deles havemos de captar a leveza, o jogo de cintura, o desapego às pessoas, mas também às coisas materiais.

Meus inesquecíveis andarilhos, eternos solitários: tenho a coragem de guardar cada um de vocês em mim, mesmo sabendo que jamais regressarão. Aperto no peito o desejo de que um dia vocês encontrem sua terra prometida, e finalmente descubram o que não vão achar em todas as suas voltas pelo mundo: o prazer quase proibido de ficar.

Pra um camaleão escorregadio, príncipe encantador num camelo: me enfeitiçou e foi embora, mas me ensinou seus feitiços sem querer. E me mostrou que é muito melhor ficar quando se sabe ir. Obrigada.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Lança-perfume

Já fui mulher de desfilar na rua. Hoje desfila em mim essa avenida amontoada de gente embriagada por um carnaval que ainda nem aconteceu.


Decadente. Vazia. Suja. Escura. Bobamente feliz. As crianças com suas espumas, que perturbam a minha visão (que já não quer se esforçar muito), as gargalhadas hipnóticas, os copos de cerveja que ameaçam minha blusa branca a todo momento, as cantadas molhadas, os confetes baratos ---- e eu. Eu e minha droga louca, que não há entorpecente maior que estar apaixonado no meio de uma avenida lotada, me movendo em um carnaval antecipado do qual a minha carne se esquiva, se torcendo toda pra não chorar.

Eu me embolo em mim. Parece que vou cair. Queria estar louca de conhaque, mas estou louca de amor – não sei como nem porquê. Num rápido flash onde a memória se confunde com o presente, a 28 de setembro é a Dias da Cruz dos meus carnavais de infância, das minhas alegrias doces e pueris. Passo a gostar dela. Meu desfile interno sai pra passear, e vejo minhas emoções pedindo licença, girando mais do que poderia o meu corpo fatigado de desejo não-correspondido. Um perfume me toma inevitavelmente – parece ar, mas é amor – e eu quase o pego com as mãos. Antes que eu o abrace, ele me abraça. E num delírio último, eu me desfaço no meio das ruas de Vila Isabel, tomada por uma Dias da Cruz imaginária, por uma vontade incontrolável, e por um lança-perfume inusitado que só pode ser você, meu amor.

domingo, 16 de janeiro de 2011

Itabira, eu e a música do Chico

Me entreguei desarmada: redenção sem resistência, que eu não sou boba de resistir ao irresistível. Já que era Minas, eu poderia ter recitado os versos encachaçados de Drummond – sorvendo cachaça – e te fazendo aceitar que eu era, finalmente, aquela mulher que sabe o que dizer, mesmo que as palavras saíssem rodopiando do estômago até chegar a boca, passando pelo coração, que dieta eficiente pro corpo e pra alma é se apaixonar. Eu sequer sussurrei doçuras, deixando meu corpo reagir baixinho, quase mudo (o que seria quase impossível). Eu deixei meu pavão misterioso dormindo, enquanto a menina acordava com os passarinhos na janela, melodiando Corinne Bailey Rae...



É que eu não queria querer mais nada. Já me satisfaria sua eloquência de sentidos e trejeitos, doce maneira de calar meu verbo voador, ou o jeito que você tem de virar minha cabeça sem me tirar a paz. Nem poderia eu ousar algo além do nada vendo seu sorriso de quem não quer nada – que é a sua maneira de conseguir tudo – contrastando modernamente com seus olhos de azeviche – a poesia de um olhar desbanca palavras.


E eu, que não sei renegar vício de carne e osso sabendo que o tédio desfila por aí sob a proteção de nossas cansadas re(o)tinas, me peguei querendo viver dessa embriaguez que, por ser leve, parecia inofensiva, mas que logo impestiou os meus versos, meu travesseiro, meu violão. Traída pela minha poesia, achei de decidir: cansei de literatura.


Acho que vou fazer cinema.