quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Segredando...

Pontinhos mal-iluminados que somos, meu Deus, e o Senhor ainda inventou de nos dar essa mania de querer brilhar. Grandiosidade pelas estradas, tropeçamos num existencialismo que dá e não passa, em dias de muito sol ou sol nenhum, em milagres que doem desde o começo por causa dessa maldita efemeridade. O que resta é a brincadeira de embaçar a vista, plantar bananeira, beber a cerveja com os amigos tal qual ritual muito secreto, pertencente a essas últimas pessoas que ainda não desistiram de ser feliz. O que resta é não acordar de manhã, mas também não dispensar a magia indolente da tarde, enquanto o corpo se alimenta de preguiça pra receber o ar sensual da noite. O que resta somos nós pra nós mesmos.
Pontinhos tão metidos a espertos. Enrolados em analogias, metáforas, eufemismos, sambas-canções, promessas, pecados, joguinhos, desaforos e falsidades. E quem é brega e dispensa analogias, metáforas, eufemismos, sambas-canções (hm.. sambas-canções não), promessas, pecados, joguinhos, desaforos e falsidades, se mete até em amor. Com esse ou sem, paira sempre um abrangente paradoxo em tudo que fazemos, somos, ou pensamos em fazer e pensamos que somos: o paradoxo da multilateralidade. Somos pequenos, atômicos, mas muito cheios de lados. Uns lados bem podres – que bom que maldade não apodrece o corpo nem faz ninguém cair do pé... ou não.
Pontinhos que vão perdendo a inocência, que vão se perdendo, que vão vivendo em vão, que vão; pontinhos que se acham exclamações, pontinhos que se acham ainda menores do que já são; pontinhos e as reticências da vida. Mas o segredo, segredo mesmo, quem já viveu sabe: Deus fala baixinho no ouvido dos apaixonados.

2 comentários:

  1. É possível que algo de bizarro aconteça e impeça o meu comentário de chegar? Sim. Eu lembro até que me chame de pontinho de interrogação, que soou estranhamente gay e me fez arrepender, mas deixei passar. Só que aposto é que ignorei a hora de verificar o comentário e sai do blog. Uma merda. Enfim, pois é, morena, que bom que você gostou daquele poema (o da morena de maio né?), porque se foi, então ao menos quem inspirou gostou.

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  2. Carooool,
    belíssimo texto, complexo, poético, um que de surreal, muito profundo e verdadeiro.
    “Pontinhos que vão perdendo a inocência, que vão se perdendo, que vão vivendo em vão, que vão; pontinhos que se acham exclamações, pontinhos que se acham ainda menores do que já são; pontinhos e as reticências da vida.” — pô, isso é minha vida: queria ter escrito isso.
    parabéns pelo texto, moça.

    quero também agradecer pelo comentário no meu poema... bem, eu andava lendo umas coisas do Bukowski e tinha o primeiro verso, aí, num momento assim, desses de solitude e/ou quase-desespero, pintei aquilo lá. não gosto dele, é muito duro, tem um sentimento duro pelo qual já passei algumas vezes… mas não é um recado, só é o que é, um poema. rs.

    um beijo.

    (eita, seu blog é bloqueado pra contas do wordpress, vou ter que comentar com a conta do google, mas meus blogs são no wordpress: http://cronicadeumamorlouco.wordpress.com e http://cartasnumagarrafa.wordpress.com - dica: desbloqueie isso)

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