sexta-feira, 1 de outubro de 2010

“Pouco amor não é amor.”

Nelson Rodrigues



É preciso estar atento e forte


pra reconhecer que existem mil razões pra se estar com alguém. Do tesão ao tédio, do interesse a insegurança, dos feromônios aos fetiches, do egoísmo ao exibicionismo; motivo não falta pra que uma pessoa faça sentido em determinado momento.


Mas aí entra a doença do amor. Como disse Gullar, “como pode acontecer que, subitamente, num mundo cheio de pessoas, alguém meta na cabeça que só existe fulano ou fulana, que é impossível viver sem essa pessoa?”


Se alguém soubesse como se dá, não duvido que muitos tomariam vacina – mas que doença inesquecível, Gullar! Que bom é, de uma hora pra outra, sentir o toque do que é divino e eterno, etéreo e infinito. Bom é, por 1 dia, um ano (chega a tanto, o tal do amor?) sentir que talvez a vida não tenha mesmo sentido, mas que a falta de sentidos que o amor causa é bom demais.


Seria leviano da parte do meu coração se eu não reconhecesse o porém do amor: doença particular e de tipo pessoal, tô pra ver quem encontre amor correspondido. Cada um ama de um jeito – SE amar! Quantos namoros e casamentos são sustentados pelo amor incondicional de uma das partes, amor quiçá platônico, com a criminosa condescendência do lado privilegiado de carinho? Melhor: quantas vezes pusemos certos alguéns em nossos altares sagrados, fazendo inimagináveis concessões de corpo e de alma – cegos o suficiente pra não percebermos a indiferença de nossos adorados deuses? É: elevar alguém a deus é condenar o nosso próprio amor a viver numa dimensão abaixo do ser adorado.


Vai: a maioria de nós sabe dizer por quem jogaria tudo pro alto, trocaria de nome. E se quando nós desencantamos de alguém não entendemos por que diabos haveríamos de achar aquela pessoa perfeita, o pior é não desencantar e ver que a outra pessoa até nos achava uma boa companhia, mas era apaixonada pelo ex, odiava quando fazíamos sexo – e a gente perdoando cada defeito enorme sem pestanejar! Eu concordo, Gullar: o amor é uma doença como outra qualquer.


Doença irônica: enquanto eu o amava, ele amava sua ex, que já tava com o outro, que olhava pra outra, que já tinha namorado... namorado que eu roubei e que me amava, mas eu ainda amava o outro. O amor é como uma quadrilha qualquer.


Se é crime prosseguir por preguiça uma relação com alguém que nos ama, eu não sei e certamente seria difícil criar uma lei para punir esses casos. Mas deixe-me romancear: crime mais grave ainda é não amar. E isso eu nem sei como é, mas conheço gente que não ama e que diz que o mundo parece meio chato e simples demais...

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